O século XIX distingue-se, por conseguinte, pela expansão dos estudos históricos e, no caso em apreço, pela valorização da história regional e local. Diversos autores, entre os quais dois nomes cimeiros da cultura oitocentista, A. Herculano e Oliveira Martins, tinham defendido em momentos distintos que o desenvolvimento da história local era fundamental para se poder fazer a história nacional. O último escreveu no prefácio a uma obra sobre Oliveira do Hospital (1893): “Considerei sempre que um dos subsídios principaes para a historia geral do paiz consiste nas monographias locaes, onde se estuda a arqueologia e a historia, as biografias e as tradições, com os documentos á vista e á mão dos archivos municipaes e particulares.” Refere a propósito a portaria de 8 de novembro de 1847 que tinha instado as Câmaras Municipais a manter um registo anual dos principais acontecimentos da vida do concelho, “cuja memoria seja digna de conservar-se”, devendo para o efeito nomear uma comissão composta por vereadores ou vogais do Conselho Municipal mais aptos.
Em tempos de elevados níveis de analfabetismo, os resultados foram modestos e o abade de Tagilde refere que somente conhece onze concelhos onde alguns trabalhos se fizeram na sequência dessa providência governamental. Nos Açores, a obra Anais do Município das Lajes das Flores, iniciada por João Augusto da Silveira e continuada pelo neto homónimo, é um exemplo desse tipo de trabalhos. O próprio Oliveira Martins, no prefácio referido, citou a propósito a obra do padre António de Macedo e Silva, Annaes do municipio de Sanct-Yago de Cassem desde remotas eras até ao anno de 1853 (1866), como exemplo de uma publicação produzida na sequência dessa medida do governo. Uma circular datada de 1854, já em plena Regeneração, assinada por Rodrigo da Fonseca Magalhães ordenava ao governador-civil de Lisboa que declarasse qual o cumprimento se tinha dado à portaria de 1847. O que mostra bem que a determinação não tinha sido aplicada na capital.