A descrição económica e a estatística demográfica já tinham, desde a segunda metade do século XIX, importância nos estudos regionais e locais, mas a abordagem sociológica e, através dela, os primeiros passos de uma história social, só no início do novo século começaram a ser seriamente considerados. Na ótica da valorização dos estudos regionais e locais, das primeiras décadas do século XX, deve ainda referir-se Fidelino de Figueiredo que foi um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos (1914). Professor, historiador e crítico literário, além de ensaísta, salientou a importância dos estudos históricos locais, chamando a atenção para a necessidade de serem publicados “volumes de documentos dos archivos publicos e particulares, elaborados todos de acordo com um plano previamente estabelecido, quanto à maneira de extractar, de grupar e de classificar, de fazer os índices, etc.” (Cit. “O Minho nas Monografias (sécs. XIX-XX”, 1991-92, p. 34). Ao mesmo tempo, opina que quando houvesse suficientes estudos locais seria possível incluir nos programas do ensino primário a história da região ou da cidade ou vila da naturalidade em que a maioria da população acaba por passar a sua vida. Nesta ordem de ideias, viria a incluir a história local no programa do ensino secundário aprovado por um governo de Sidónio Pais, em 1918.
Fidelino de Figueiredo fazia parte de uma geração em que o nacionalismo se compaginava com valores regionalistas e municipalistas. Não eram vistos como opostos ou conflituantes, mas como parte do processo de construção de uma ideia da nação que não podia excluir, naturalmente, as suas várias componentes. Ainda no campo da teoria e da metodologia é importante destacar a proposta que o professor Marcello Caetano fez aos seus estudantes da cadeira de Direito Administrativo para realizarem Monografias sobre os Concelhos Portugueses (1935). Claramente dominado pela preocupação didática apresenta instruções precisas sobre o modo como deveriam ser elaborados os trabalhos para terem valor académico, destacando “o método e clareza da exposição; a probidade das afirmações; o escrúpulo na documentação.” (o itálico é do próprio autor; p. 3). O plano pormenorizado que propõe desdobra-se em diversas perguntas, as quais através de uma criteriosa consulta da documentação e dos arquivos, permitiriam gizar uma história geral do concelho e um quadro da sua vida administrativa. Não dispensa, no final, a bibliografia com a indicação dos estudos e das coleções de documentos impressos pelas Câmaras Municipais. As bibliografias e as propostas metodológicas em relação ao estudo do local evidenciam que era sentida a necessidade de aprofundar em quantidade e em qualidade a produção deste tipo de investigações.