Faculdade de Letras da Universidade do Coimbra (1911-1974)
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O conteúdo desta obra era nacional e de intenções nacionalistas, como as integradas nas duplas comemorações da fundação da nacionalidade e da libertação de Portugal em 1640, oportunidade de exaltação do «Mundo Português». Mas nacional era a história que se fazia e se fez até aos nossos dias, antes da generalização da história transnacional e global. Creio que, no período que tratamos, nenhuma missão portuguesa partiu para país estrangeiro com a finalidade de estudar a sua história. Eram as matérias da nação que deviam ser estudadas com prioridade. O objectivo da Revista Portuguesa de História (RPH), órgão do Instituto de Estudos Históricos iniciado a publicar em 1940-1941, era o estudo da nação, como já o era, para França, o da Revue Historique, iniciada em 1876, ou o programa do Centro de Estudios Históricos (1910) de Madrid. O patriotismo, escrevia Merêa em 1940, não é incompatível com a objectividade, quando devidamente entendido, e assim continuava a ser considerado, ainda em 1962, por Torquato Soares, especializado na investigação das origens da nacionalidade e das instituições municipais portuguesas.
Com o advento do novo poder em 1926, cada vez mais se identificou «o direito da nação com o direito do estado», procurando-se, através da história, «revelar a alma da nação» (A. M. Hespanha, «Historiografia jurídica», Análise Social, 18 (72-74), 1982, p. 800 e 804), atitude comum a certas correntes literárias, o que levava a procurar o passado nos tempos mais recuados. A história, «como evolução do direito e das instituições ajudava a apresentar um ideal interclassicista da nação, na qual se inseriam adequadamente os foros, cortes, posturas municipais, etc», como se ensinava no Centro de Estudios Históricos de Madrid (Mártinez Millán, «La historiografía sobre el siglo XVI español», in José António Munita Loinaz, ed., XXV años de historiografía hispana (1980-2004), 2007, p. 111), que T. Soares frequentou em 1934. Era a Idade Média que predominava nas páginas da acima referida História de Portugal, como era sobretudo medieval a historiografia que se fazia e ensinava no 4.º Grupo de História até à revolução de Abril, como mostra a colaboração inserta na RPH de 1941 a 1974, o mesmo sucedendo aos conteúdos de outras revistas fora de Coimbra. Prática, de resto, que também já vinha da monarquia, como se depreende da reestruturação do Curso Superior de Letras em 1901.