Faculdade de Letras da Universidade do Coimbra (1911-1974)
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O projecto de cursos de história económica por parte de professores estrangeiros, se possíveis anuais e primeiramente voltados para as relações comerciais medievais de Portugal com a Flandres, nasceu em 1939 e foi executado por T. Soares, sob estímulo de Paulo Merêa, ficando programado o seu início para 1940, ano dos centenários. A vinda do professor Charles Verlinden (1907-1996), da Universidade de Gand, impunha-se dentro dos objectivos iniciais, mas a invasão da Bélgica em 1940 protelou a sua chegada para depois do fim da guerra, permanecendo em Coimbra durante períodos continuados nos anos lectivos de 1946-1947 e 1948-1949. Durante 15 dias, em Março de 1949, e, depois, em 1950, coube a vez a Yves Renouard (1908-1965), que recentemente havia publicado Les hommes d´affaires italiens au Moyen Âge, de pronunciar igualmente conferências aos estudantes (e mesmo fora da Universidade) sobre matéria da sua especialidade.
O curso que Verlinden proferiu no ano lectivo de 1946-1947 tinha, no entanto, ainda um carácter de iniciação à História Económica, mostrando bem o estado da disciplina no plano da investigação e ensino em Coimbra. Tratava-se, com efeito, «de permettre aux étudiants d´apprendre à penser économiquement à propos du passé» (Introduction à l´Histoire Économique, 1948, p. 7). Nove capítulos de lições e um apêndice documental de 38 textos de autores significativos constituíam um bom acicate para se entrar na problemática, a qual, no entanto, aprofundou no primeiro trimestre do ano lectivo de 1948-1949, tendo dado relevo às relações comerciais portuguesas na Idade Média.
A falta de investigação sobre História Económica na FLUC e as oposições que se levantaram em Lisboa aos continuadores de Virgínia Rau contribuíram para que demorasse a surgir «o eclipse da história narrativa». Com efeito, como acentuou Paul Ricoeur, «a metodologia da história económica consistia mais numa continuidade do que numa ruptura com o combate antipositivista de March Bloch e Lucien Febvre. Com efeito, o que os fundadores da escola dos Annales haviam querido combater era, em primeiro lugar, o fascínio pelo facto único, não repetível» (Temps et récit, vol. I, 1983, p. 193). A história serial, anota por sua vez F. Dosse, interpretando Foucault, «define o seu objecto construindo séries homogénias de documentos, fazendo então o historiador surgir acontecimentos que não podiam aparecer sem ele» (Renaissance de l´événement, 2010, p. 147).