Faculdade de Letras da Universidade do Coimbra (1911-1974)
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O modelo inicialmente assumido pelo Grupo de História tinha já ao nascer, no entanto, os seus contraditores. Na Alemanha havia-se desenvolvido, desde 1870, um ataque contra os fundamentos do cientificismo da História (Diltey, Simmel e Rickert) e, em Portugal, ocorre igualmente uma reacção à ideologia positivo-cientista, acabando por impor-se na Literatura, História, Direito ou Filosofia.
Paulo Merêa e Cabral de Moncada, que foram professores de História de Portugal na Faculdade de Letras, vão combater por um idealismo em História (Merêa, desde 1910), e contra o paradigma positivista se insurgirá e combaterá igualmente, por volta de 1923-1924, Gonçalves Cerejeira. Curiosamente, em Clenardo, Cerejeira «surge-nos surpreendentemente maquiavélico e economicista», apoiando-se em António Sérgio para explicar o não desenvolvimento de Portugal quinhentista (Luís Salgado de Matos, «Cardeal Cerejeira…», Análise Social, 36 (160), 2001, p. 807).
Do positivismo, Cerejeira reteve apenas o método, acentuando, no entanto, «refugado ele porém como filosófico» (A Igreja e o pensamento contemporâneo, 1924, p. 223). Método seguido, quanto aos factos, pelos integralistas em política e os professores de História em Coimbra, o qual lhes dificultou a assunção desde cedo da compreensão em vez da explicação, se bem que Joaquim de Carvalho, já em 1933, tivesse enviado um alerta público, precisamente em discurso de cerimónia solene na Sala dos Capelos, ao dizer de um amigo e correligionário, professor de Estética e História da Arte: «Como historiador da arte, [...] fez da explicação, que não da compreensão apenas, o norte dos seus estudos. É, se assim me posso exprimir, um positivista. Inventaria factos, como ninguém no nosso tempo, e procura as conexões objectivas entre êles, e estes factos e estas conexões se não nascem com o perfume da pura sensibilidade estética é porque aspiram à glória perene da fundamentação científica. Eu não sei se a atitude científica é possível em matéria de arte, porque o artista se não move no reino dos factos, mas dos valores» («Discursos», Biblos, 9, 1933, p. 501-502).
O método impôs uma crítica externa e interna do documento em busca do rigor, da certeza. Semblante que assumiu A. de Vasconcelos e igualmente Cerejeira e todos os docentes até aos anos trinta de novecentos. Tendência igualmente seguida pelos seus discípulos que, através do neopositivismo, se tornou mais seca, proscrevendo os adjectivos e as apreciações morais, pelo menos nos meados dos anos cinquenta, década de crise da História dentro da Faculdade.