Faculdade de Letras da Universidade do Coimbra (1911-1974)
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Para derrubar «a ausência de critério de escolha, logo de problemática, na elaboração do que conta como ‘facto’ em história» (Ricoeur, ibidem), contribuiu a referida actividade dos anos quarenta em Coimbra em prol da História Económica, ajudando a levantar internamente barreiras pelos finais dos anos cinquenta, tempo necessário de reformas permitidas por alguma liberdade intelectual, válvula de escape do regime, e tempo, também, da adesão de Portugal à EFTA (1960), promovendo as exportações e a internacionalização da cultura. Tempo, em França, da segunda geração dos Annales, a qual impôs a história económica e social num contexto interno de reconstrução do país a partir do fim da segunda guerra mundial, para além da situação internacional, preocupando-se, ao mesmo tempo, «com as relações entre ideologia e a economia», como sintetizou, Marie-Paul Caire-Jabinet (L´histoire en France, 2002, p. 168). «A idade de ouro da história económica e social em França» (ibidem) decorreu, com efeito, nos anos cinquenta e sessenta, a qual não podia deixar de reflectir-se em Portugal, embora, ainda em 1965, a doutrina oficial em matéria de Teoria da História era a do culto dos factos singulares. Os que discorriam que a História se constrói com ideias e não com factos «apenas perseguiam as grandes linhas político-económico-culturais da evolução dos povos e das civilizações». Sem uma «análise objectiva, documentada, minuciosa, dos factos singulares, de essência transfinita, irredutíveis à definição abstracta das ideias, não há História como compreensão de uma existência passada, há Ideologia como recriação mental de um possível passado que, também possivelmente, nunca chegou a existir» (Miranda Barbosa, «Doutoramentos solenes», Biblos, 41, 1965, p. 378-379).
Não obstante esta posição assumida na Sala dos Capelos, porventura uma forma crítica amiga da obra do Doutor que pedia a colação do grau, havia já quem no terreno estivesse a calcorrear outros caminhos, os quais, com o turbilhão de Abril de 1974, todos os sentidos se deslocam, chegando a História Económica e Social a atingir o auge curricular entre a revolução e os finais dos anos setenta, antes do pós-modernismo se impor e o universalismo ceder ao quotidiano e à micro-história. Antes, afinal, do renascer do acontecimento, a história das diferenças, que são também as nacionais, como a geração de 1910 havia inventado.