Faculdade de Letras da Universidade do Coimbra (1911-1974)
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Foi no final da década de cinquenta, e sobretudo na seguinte, na continuação da implementação da reforma de 1957, que autonomizou a licenciatura em História, multiplicou as cadeiras e diminuiu o serviço atribuído aos professores mais antigos, que o Grupo de História começou a ver alargado o seu corpo docente, através de recrutamento de segundos assistentes, nas áreas de Arqueologia, Numismática e História Moderna (e para História da Arte, em 1968, um professor extraordinário), ao mesmo tempo que dois novos medievalistas, como acima referimos, concluem os doutoramentos e desenvolvem as suas carreiras, havendo já sido professores da maioria dos que de novo ingressaram.
A dissertação do Pe. Avelino de Jesus da Costa não inova quanto ao método, mas contém já elementos anunciadores dos novos tempos historiográficos ao introduzir problemáticas de demografia histórica, ligadas ao ermamento, e de história económica num espaço regional / local pertencente à diocese de Braga do tempo do bispo D. Pedro, mas com elementos dos séculos XI a XV, nomeadamente os referentes aos censuais.
Estas matérias vão ser incluídas no ensino e na investigação a partir da década de sessenta, passando a demografia histórica e a história quantitativa e serial, assim como as suas técnicas, com exemplos anteriores em Lisboa, a fazerem parte de aulas práticas e da investigação de alunos, ainda obrigados a uma dissertação de licenciatura. Temáticas impulsionadas por Luís Ferrand de Almeida, debruçado então sobre a história das técnicas, uma das formas de renovação da historiografia, e sobretudo por mim próprio, no momento mais voltado para a demografia histórica e história económica e social, de que dei testemunho na dissertação de doutoramento (2 vols., 1971-1972). Foi também o tempo inicial em que M. Lopes de Almeida publicou a sua recolha de documentos sobre artes e ofícios referentes à Universidade e em que Mário Hipólito e Jorge de Alarcão, especializados em Inglaterra, modificam o ensino e investigação de Numismática, Pré-História e Arqueologia, começando, para esta, uma gloriosa fase de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, José Sebastião da Silva Dias (1958), que sucedeu a Joaquim de Carvalho, anuncia novos horizontes na História da Cultura, os quais, em França, assistem ao desenvolvimento da chamada história das mentalidades e do estruturalismo, antes do pós-modernismo virar quase do avesso a história que se fazia. E Salvador Dias Arnaut, com uma influência muito grande pelos discípulos que soube criar, desenvolve e incute o amor da nova história local, propiciadora também de inovações historiográficas, por onde o seu amor à História havia começado. Por volta de 1967 volta a ser pioneiro ao elaborar «a mais desenvolvida, documentada e ‘saborosa’ síntese até então publicada» sobre «a arte de comer na Idade Média» (L. F. de Almeida, «Notas», RPH, 31, vol. I, 1996, p. 41-42), temática tão continuada depois dentro de uma alargada história do quotidiano. E anos mais tarde, reconvertendo-se como tantos outros, envolve de nova sensibilidade «o homem, a mulher, a vida, a morte, o amor» a propósito do tema inesiano, enquadrado agora numa nascente história conjugada no feminino («Os amores de D. Pedro», 1985, p. 403-414).