Outro ponto de interesse diz respeito às marcas de enunciação que os historiadores usam (ou evitam usar). No caso de Magalhães Godinho, desde logo é evidente o uso do plural majestático para se referir a si próprio (chega a usar o designativo “nós próprio”). Noutros historiadores os pronomes pessoais apagam-se e o discurso histórico parece legitimar-se a partir da sua autonomia – caso de Jorge Borges de Macedo.
Outra dimensão ainda não explorada é a da fixação em suportes materiais da memória de figuras de historiadores na estatuária urbana, na pintura e nas artes decorativas, na toponímia, em lápides, nomes de escolas, selos, moedas ou postais ilustrados. Conviria desenvolver um inquérito historicamente situado não só para Lisboa, Porto, Coimbra, Braga ou Setúbal mas também em centros urbanos de província onde foram representados historiadores eruditos e autodidactas que contribuiram para alargar e difundir o conhecimento das memórias locais. Significativo é, por exemplo, que as estátuas públicas dos maiores vultos da historiografia oitocentista, Herculano e Oliveira Martins datem já dos anos 50 do século XX.
Saliente-se, por último, a quase ausência de debates no campo da história da historiografia, nas últimas décadas. E, no entanto, durante o Estado Novo, malgrado o exercício da censura e a ausência de liberdade de expressão, houve frequentes polémicas de temática histórica, muitas delas desencadeadas por ensaistas - caso de António Sérgio. Confrontaram-se interpretações divergentes àcerca de momentos relevantes da história nacional: por exemplo acerca da formação de Portugal, da natureza da revolução de 1383, sobre os primórdios da expansão portuguesa, a Inquisição, a revolução liberal ou sobre a revolução industrial. Nestes debates houve divergências no uso de conceitos-chave como revolução, classe social, decadência, atraso ou estrangeirados. Mas no domínio da história da historiografia quase não houve debates. Refiram-se duas excepções: a extensa crítica de J. Barradas de Carvalho ao livro de A. José Saraiva sobre Alexandre Herculano (republicada em J. Barradas de Carvalho, As ideias políticas e sociais de Alexandre Herculano, 1971, pp.235-256) e a crítica de A. Borges Coelho a V. Magalhães Godinho a propósito dos Ensaios II deste último, incidindo entre outros pontos, na periodização e no conceito de complexo histórico-geográfico (Questionar a História I, 1983 [1970], pp.287-303). Afirmaram-se interpretações divergentes - não raro sem citar os nomes dos autores de quem se discorda -, mas controvérsias entre historiadores foram muito poucas e circunstanciais.