A que se deveu esta escassez do debate público? O problema merece estudo aprofundado ainda por fazer (como estão por estudar algumas polémicas ocorridas no campo mais vasto da história). Poderá-se-á contudo admitir que se prende com a longa ausência de liberdade de expressão no país, a marginalidade do pensamento crítico, a pequenez da comunidade de historiadores e a sua centragem na história nacional, que atrás notámos. Mas também com ligação dos profissionais da história a instituições e a redes mais ou menos fechadas. Por vezes a crítica foi entendida como ataque pessoal. Raramente se discutiram concepções de história e conceitos. Algumas críticas reduziram-se à identificação de silêncios na referência a autores. Mas desde os primeiros anos deste novo século há indícios de mudança quer no plano da crítica pública quer da internacionalização dos historiadores. E indiscutível é a continuidade de um sentido autocrítico entre os profissionais da história.
Bibliografia:
ALEXANDRE, V. Perfil da investigação científica em Portugal. História, Lisboa, MCT-FCT-OCT, 1999; ARRUDA, J.J e TENGARRINHA, J.M. Historiografia luso-brasileira contemporânea, Bauru, EDUSC,1999; BETHENCOURT, F. e CURTO, D. R. (Eds), A memória da nação, Lisboa, Sá da Costa, 1991; BOXER, Charles, “Some considerations on Portuguese Colonial Historiography”, Opera Minora (ed. D.R.Curto), Lisboa, Fundação Oriente, 2002, vol.3, 5-27; BRAUDEL, F., “Au Portugal: avant et après les grandes découvertes”, Annales E.S.C., vol.IV, 1949, pp. 192-197; BRISSOS, José “Liberalismo: ideologia e história – lendo Jorge Borges de Macedo”, Jorge Borges de Macedo: saber continuar (MACEDO, Jorge Braga de ed.), Lisboa, MNE/ID, 2005 pp.201-226; Id., “A cultura política liberal portuguesa do século XIX: a perspectiva de Jorge Borges de Macedo”, Nove ensaios na tradição de Jorge Borges de Macedo (MACEDO, Jorge Braga de et alea eds.), Lisboa, Tribuna da História, 2009, pp.217-225; BRITO, Ricardo de, A Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos no contexto historiográfico nacional (1911-1928), Lisboa, FLUL, 2012; CARVALHO, J.Barradas de, As ideias políticas e sociais de Alexandre Herculano, Lisboa, Seara Nova, 1971 [1ª ed. 1949], Id., Da história-crónica à história-ciência, Lisboa, L. Horizonte, s.d. [1972], pp. 90-91; CATROGA, F., Memória, história e historiografia, Coimbra, Quarteto, 2001; Id., Os passos do homem no restolho do tempo. Memória e fim do fim da história, Coimbra, Almedina, 2009;