O relativo atraso deste associativismo dos historiadores em relação aos casos da França e da Alemanha é evidente. Nessa época dominava um conceito de história positiva ou metódica em ambiente muito marcado por um historicismo nacionalista de teor liberal ou mais conservador. Para a instauração da I República em Portugal contribuiu uma propaganda política em larga medida justificada com recurso à história: dominava uma teoria da decadência segundo a qual três séculos de monarquia absoluta e de catolicismo dominado pelo ideal da contra-Reforma e pela Inquisição, mais as consequências negativas da expansão ultramarina, teriam levado à decadência da nação. O declínio ter-se-ia prolongado no século XIX com a Monarquia Constitucional. O historicismo republicano, centrado num conceito de nação identificada com o povo, via nos monarcas absolutos e nos padres (especialmente na Inquisição) os grandes obstáculos ao progresso. Esta estratégia narrativa liberal e republicana seria contestada por uma geração tradicionalista e monárquica que se afirma a partir de 1914-15, o grupo do chamado Integralismo Lusitano, muito marcado pelo nacionalismo conservador da Action Française de Charles Maurras. Para estes autores, caso de António Sardinha, as causas do declínio estavam antes do lado do liberalismo, da maçonaria (a que por vezes associavam as tendências iberistas) e das heterodoxias religiosas – incluindo o judaísmo.
Uma das propostas mais ousadas de balanço e reflexão sobre a historiografia portuguesa do século XIX partiu não de um historiador, mas de um publicista eclesiástico e partidário do Antigo Regime político: Manuel Abúndio da Silva. Num estudo com que o autor concorreu (sem sucesso) a uma vaga no Curso Superior de Letras mostrava-se bem informado acerca das teorizações da sociologia da época (A história através da história, 1904). Antes de Maurice Halbwachs, Abúndio da Silva estabelecia uma distinção muito pertinente entre memória orgânica - de que o povo é detentor, situada ao nível do instinto e da tradição – e memória consciência (que se pode identificar com memória histórica, a que se referiria depois Halbawchs), cultivada pelos historiadores, homens de elite que, só eles, tinham meios para perpetuarem essa memória. Como explicava ele que a memória social fixasse certos acontecimentos e personalidades em detrimento de outras? Pela relevância e excepcionalidade desses mesmos acontecimentos e personagens, considerava Abúndio da Silva. O que permanecia na memória social era, a seu ver, o extraordinário, o extra-normal.