Nessa época, a criação de duas novas universidades em Portugal (Lisboa e Porto) e a reforma de 1911, que associava História e Geografia, estimulavam a reflexão sobre o lugar da história na sociedade e no ensino e conferiam destaque ao estudo da identidade nacional na dimensão histórica (mas no Porto, a Faculdade de Letras só seria criada em 1919 e, encerrada em 1928, só reapareceria em 1962). Fidelino estabeleceu contactos com historiadores estrangeiros como Benedetto Croce, Edgar Prestage e Bustamante. Mas seria preciso esperar pelo pós-II Guerra para que surgissem novidades. A situação periférica do país não facilitava os intercâmbios com as culturas europeias em que as vanguardas historiográficas mais impacte tinham. Malgrado os condicionalismos políticos, a Junta de Educação Nacional – depois Instituto para a Alta Cultura - teve uma função significativa no apoio a alguns bolseiros de investigação em universidades europeias, também no campo das ciências humanas.
Até aos anos 60 do século XX, a história da historiografia em Portugal centrou-se sobretudo nos historiadores e nas suas obras. Os trabalhos referidos de V.Magalhães Godinho e de Fidelino de Figueiredo constituiram, contudo, um momento de viragem pois intentaram ultrapassar o ponto de vista do individual para rastrear tendências gerais – tipificadas em obras concretas - considerando-as em termos críticos. Periódicos universitários como a Revista Portuguesa de História (fundada em 1941, em Coimbra) e Do Tempo e da História (Lisboa,1965-72) revelaram novas dinâmicas no campo historiográfico português que se actualizava em contacto com outras historiografias europeias, sobretudo a francesa e a espanhola. Mas, como notara o insuspeito Silva Rego em 1956, os historiadores portugueses não se dedicavam à história de outras nações, e faltavam sínteses e trabalhos de filosofia da história. Em contrapartida, o interesse pela obra de Alexandre Herculano (1810-77), o mais influente vulto da historiografia portuguesa oitocentista, suscitava estudos relevantes [Barradas de Carvalho, 1971 (1ª ed.1949) e A. José Saraiva, 1977 (1ª ed.1949)]. As interpretações sobre o pensamento histórico do autor da História de Portugal, e principal construtor da narrativa liberal oitocentista, divergiam, no que respeita à sua concepção de história: qual o lugar da Providência na sua narrativa histórica? Em que medida valorizava o condicionalismo social na transformação histórica? Nesse tempo de pós-guerra que continuava a ser de ausência de liberdade de expressão em Portugal e Espanha, o que estava em causa era uma questão central: que lugar atribuía o historiador ao indivíduo na história?