A esse título, não foi estranho a este composto de erudição e divulgação o mesmo gosto pela exemplaridade de certas figuras. Ainda nos anos ’40, por exemplo, Lopes de Oliveira fazia-se rodear de uma equipa de biógrafos experimentados, literatos mas também historiadores de pleno direito, mesmo que não académicos – como Augusto Casimiro, Tomás da Fonseca ou o Visconde de Lagoa –, para publicar uma extensa obra dedicada a As Grandes Figuras da Humanidade, onde, segundo o gosto e a ideologia dominantes, sobressaíam aquelas nacionais. Outras no mesmo espírito se lhe seguiriam.
Na colecção “História de Portugal” da Empresa Nacional de Publicidade, por exemplo, em que por meados do século se encontraram universitários, literatos e eruditos de vária ordem – como Vieira de Almeida, Carlos Selvagem, Luís Chaves ou Mário Domingues –, o programa era o da reconstituição das épocas nacionais de maior esplendor através do retrato de personagens emblemáticas. Pela mesma altura, mas aqui já em ambiente claramente académico, Hernâni Cidade – ele próprio autor fecundo de biografias literárias – viria a dirigir uma espécie de história nacional em dois substanciais volumes, sob o título inequívoco de Os grandes portugueses. Nela expressamente se colocava a erudição ao serviço da popularização, mesmo que junto de um público relativamente culto e com acesso a volumes mais cuidados. A autoria, distinta, justificava em termos editoriais o formato, já que entre os colaboradores da obra se podia encontrar uma parte importante do universo académico português ou das suas franjas: de Jaime Cortesão a António José Saraiva, Lindley Cintra, Borges de Macedo, Óscar Lopes e José Mattoso, passando, para o que aqui mais nos interessa, por biógrafos experimentados como Torquato da Sousa Soares, Fidelino de Figueiredo, Francisco da Gama Caeiro, Ester de Lemos ou Mário Martins.
Noutras áreas mais específicas que não a dos grandes quadros históricos, a entrada em cena no meio da divulgação por alguns desses académicos consistiu, no essencial, num exercício de partilha de interesses e investigação próprios, postos ao serviço da formação popular. O modelo preferencial, dado o predomínio de pensadores e artistas como objecto, era o da vida e obra.
Nos campos da literatura e das artes em geral (e das plásticas em particular), essa estratégia de intervenção revelou-se profícua, por vezes à custa do velho formato da publicação em fascículos, destinado a alargar ao maior número o acesso a edições de outro modo incomportáveis.