Fiéis ao modelo secular dos exempla, sob patrocínio directo do Estado ou apenas à sua sombra, autores e editoras pareceram apostar nestas colecções de percursos individuais, que, de algum modo, e com intuito didáctico, apresentavam uma leitura de conjunto da história do país. Conquanto variáveis o formato e o nível de rigor histórico manifesto nestas edições, a concepção de história – e a ideologia que lhe subjazia – era, na essência, a mesma. Costa Brochado (este sócio do número da refundada APH e membro da Assembleia Nacional) exemplificava e sintetizava bem o programa inscrito na generalidade desses trabalhos – em que o seu se incluía –, ao afirmar que o que lhe interessava não era “a vida dum homem, mas a da própria nacionalidade portuguesa [...]”. Autor de obras dedicadas ao expansionismo e missionação nacionais, que queria constituíssem um conjunto orgânico de reconstituição dessa “grande gesta”, C. Brochado viu a sua biografia sobre o Infante D. Henrique ser galardoada com o Prémio Alexandre Herculano do SPN em 1942 e, no ano seguinte, a de Afonso de Albuquerque, com o Prémio de História no concurso de Literatura Colonial. Reunindo autores ou entregando a um só a redacção, sob a forma mais extensa da colecção ou em volumes únicos, estas sínteses da história pátria, encarnada pelos seus grandes nomes – os “governantes supremos” ou os “dirigentes” em sentido mais lato –, multiplicaram-se exponencialmente durante toda a vigência do regime ditatorial. (Costa Brochado, Afonso de Albuquerque, 1943, prefácio)
Bebiam, obviamente, da mesma ideologia os seus autores preferenciais. No trilho da literatura de divulgação liberal e republicana, publicaram-se colecções compostas por pequenos volumes de fácil acesso, como aquela, extensíssima, criada pelo jornalista e sócio da Academia das Ciências de Lisboa, Rocha Martins, a abrir a década de ’30, ainda na fase em que activamente apoiava soluções autoritárias de governo; nela, e sob o título genérico de “História”, fez sair curtas biografias, agrupadas em séries dedicadas às “Legendas”, “Grandes amores”, e “Heróis, santos e mártires da Pátria”. Uns anos mais tarde, saía a ainda mais celebrada colecção sobre as “Figuras nacionais”, da autoria exclusiva de Mário Gonçalves Viana, outro colaborador estreito do aparelho governativo; concretização prática do modelo ideal, convencional, de biografia, que associava a um determinado tipo de sociedade e de regime simbolizado nos seus “chefes”, valeu-lhe edições esgotadas e volume à parte com recolha de críticas entusiásticas. (Vítor de Sá, “Releitura de O Arquivo Nacional”, 1989, pp.107-8; M.G. Viana, “Ensaio preambular”, 1944, pp.14-20; As Figuras Nacionais..., 1938)