José-Augusto França talvez seja um dos exemplos mais acabados e persistentes desse tipo, tendo publicado pequenas biografias em várias colecções de arte dirigidas a um público extra-universitário. Já na área da história da literatura e do pensamento, embora em volumes mais extensos, por vezes contendo extractos de obras e dirigidos a leitores necessariamente cultivados, desde meados da centúria que a presença de académicos num mercado editorial para lá do circuito estrito da academia se tornou bem visível: assim, por exemplo, na Arcádia (na colecção “A obra e o homem”), onde, até final dos anos ’70, foram editados (e reeditados) trabalhos de Hernâni Cidade, Óscar Lopes e Oliveira Marques, ou ainda de Álvaro Dória e António Quadros; ou na Inquérito, a mesma que entre as décadas de ’30 e ’40 publicara vários volumes das Vidas de Plutarco, e com a qual viriam a colaborar, entre outros, Joel Serrão e J.-A. França.
No essencial, contudo, a resposta à invasão do campo próprio de investigação e actuação do historiador passou por um reforço da tradição erudita, menos permeável à contaminação de ideias e fundamentalmente destinada a consumo interno. Delimitavam-se, assim, as fronteiras disciplinares da história.
Entre académicos, a produção biográfica tendeu muitas vezes, por isso mesmo, a constituir acima de tudo instrumento de trabalho e marco de investigação, seja nos historiadores propriamente ditos (como, para citar biógrafos militantes, Banha de Andrade, Pina Martins, M. Lopes de Almeida ou Teixeira da Mota), seja nalguns daqueles que fizeram da biografia o esteio essencial da história da sua disciplina, da economia (como Moses Amzalak) à medicina (na esteira de Maximiano Lemos, os casos de A. da Rocha Brito, Jaime Walter ou, ainda, Luís de Pina). Aí se encontram os mais directos herdeiros de Sousa Viterbo ou Braamcamp Freire, mas também aqueles que, adoptando uma metodologia centrada na reconstituição de percursos individuais, fizeram da biografia quer exercício de dissecação de vidas singulares, quer via de acesso a épocas, entidades e processos históricos mais latos. Mesmo aqui, porém, no domínio mais próprio da produção académica, não foi absoluta a imunidade ao ideário vigente, fosse por escolha individual, fosse por condicionamento institucional.