Na universidade, mais especificamente, o género conheceu mesmo alguma pujança, como desde logo se torna manifesto na escolha de temas de dissertação; e se alguns destes trabalhos se ocupavam, em grande medida, do estudo de obra, outros houve mais próximos da concepção tradicional de biografia: casos das teses de doutoramento de António Gonçalves Rodrigues sobre o Cavaleiro de Oliveira (1950), Veríssimo Serrão sobre a Infanta Dª Maria (1953), Borges Nunes sobre D. Frei Gomes (1963), Luís de Oliveira Ramos sobre o Cardeal Saraiva (1972) ou Sales Loureiro sobre Miguel de Moura (1974), e das dissertações de licenciatura, entre outros, de Mª do Rosário Themudo Barata sobre o diplomata Rui Fernandes de Almada (1971) ou mesmo de Fortunato Queirós em torno do ideário pedagógico de D. Pedro V (1970), a qual veio a estar na base da volumosa obra que dedicou à figura do rei, começada a publicar no ano mesmo da Revolução.
Ainda que obviamente não impermeável à grande vaga analítica, não parece ter sido assim tão francês o destino da biografia em Portugal. É verdade que algum eco teve no meio académico o debate em torno da escrita biográfica, parte de outro mais largo sobre questões de método e epistemológicas levantadas, antes de mais, pelo movimento francês dos Annales. Mas é difícil reconhecer nessa discussão em Portugal – à parte a adopção exclusivista por alguns de modelos teóricos de base anti-individualista – uma radicalização de termos que prenunciasse a quase total marginalização do género de que hoje, mais que nesses anos, tanto se fala. Na obra que dedicou à situação económica no tempo do Marquês de Pombal, por exemplo, J. Borges de Macedo postulava como princípio que nenhum trajecto pessoal poderia servir de matriz a, ou substituir, uma “explicação global”. Mas o Autor, mais que renunciar ao género por inteiro (viria mesmo a participar em Os grandes portugueses, de H. Cidade, poucos anos depois), apontava a um modelo em especial de biografia, a um modelo ideal, como Herculano fizera muitas décadas antes – a do grande homem, em que toda a história de um período ou de um “povo” se sintetiza. A asserção de Macedo, aliás, ecoava uma preocupação que, em meados do século XIX, afectara uma parte dos autores que se haviam dedicado ao retrato histórico ou, mais em particular, pensado sobre a relação entre indivíduo e contexto.