Desde logo, na literatura infanto-juvenil, assumidamente formativa e elemento não despiciendo na veiculação do ideário estado-novista, esse patrocínio revelou-se particularmente significativo. Foi o caso, para exemplo de vasto sucesso, dos livrinhos saídos, entre finais dos anos ’30 e termo dos ’40, nas colecções “Pátria” e “Grandes portugueses” (a que se seguiria, com menor expressão, “Grandes portuguesas”), ambas sob a égide do SPN/SNI. Inaugurara-as Virgínia de Castro e Almeida, aliás colaboradora oficial do governo português.
Note-se, para além dessa literatura direccionada para um público mais específico, a longevidade de outras séries patrocinadas por órgãos do Estado, maioritariamente dominadas pelo tema da expansão ultramarina e da exploração mais recente do continente africano. Herança reformulada da crise de fim de século que atingiu o domínio colonial português – quando a produção historiográfica sobre o período da Expansão, em particular a biográfica, se multiplicou –, foi, de facto, na imagética do Império que veio a assentar uma parte muito significativa da produção no domínio da biografia nas décadas centrais do século e, pela mesma ordem de ideias, uma parte importante do investimento feito pelo Estado na popularização de teor histórico: caso eloquente, na literatura expressamente divulgadora, da colecção “Pelo Império” (publicada pela Agência Geral das Colónias, entre 1935 e o início dos anos ’60), depois de algum modo continuada (e com alguns volumes reeditados), até 1974, em “Figuras e feitos de além-mar”, já sob a égide da transmutada Agência Geral do Ultramar. Nela – como nos concorrentes “Cadernos coloniais”, da Cosmos – só raramente se encontra a participação mais qualificada de académicos, em favor de uma proporção claramente maioritária de autores directa ou indirectamente ligados às forças armadas ou à administração ultramarina, mas nomes como Eduardo de Noronha, Gastão de Sousa Dias ou Marcelo Caetano, por exemplo, contribuíram para emprestar a aura de qualidade de que estas colecções, no seu género e com largo eco popular, gozaram. (Arlindo M. Caldeira, op. cit., pp.130-31; L. Reis Torgal, “Livros de história e de histórias no Estado Novo”, 1992)
Estavam assimilados, dir-se-ia, o modelo e o princípio das Vidas de Plutarco, materializados nos retratos daqueles que haviam dirigido, nos seus vários campos, os destinos da nação.