Pretendemos principalmente realizar um estudo de síntese, sem entrar nos domínios da nossa história política, a não ser quando o seu conhecimento se torna necessário à inteligência da economia nacional» (Francisco António Correia, História Económica de Portugal, vol. I, 1929, pp. VI-VII). Apesar da intenção do autor, esta história económica encontra-se muito entrosada com a história política, mesmo no enquadramento temporal, alicerçada na cronologia dos respetivos reinados. Acerca do seu valor, no contexto historiográfico português, é pertinente a seguinte apreciação: «Tal estudo não assenta em investigação arquivística, não inova no método, é assaz irregular no que respeita a detalhe informativo e obedece ao nítido propósito ideológico de justificar doutrinas caras ao autor, designadamente a sua posição favorável à liberdade de comércio. Não obstante, tem o mérito de ter explorado um campo pouco trabalhado pela historiografia portuguesa e a originalidade de procurar demonstrar […] que o tratado de Methuen constituiu um momento importante para o progresso da economia portuguesa e não um momento crucial para a explicação do seu atraso industrial» (Carlos Bastien, «Francisco António Correia (1877-1934)», 2001, p. 95).
Também no final do período em análise destacou-se João Lúcio de Azevedo (1855-1933). Após ter frequentado, em Mafra, a escola de primeiras letras e realizado os estudos preparatórios no Colégio do Sérvulo, entrou na Aula do Comércio, em Lisboa, cujo curso completou. Com 18 anos de idade emigrou para o Brasil, tendo-se fixado em Belém do Pará, onde trabalhou numa livraria, da qual viria mais tarde a tornar-se proprietário, tendo casado com a filha do respetivo dono. A formação adquirida na Aula do Comércio, o contacto com os livros e a paixão que tinha por eles proporcionaram-lhe condições para publicar a sua primeira obra (Estudos da História Paraense, 1893). A edição deste trabalho permitiu-lhe o acolhimento, como sócio, pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1894). Tendo vendido a empresa, regressou a Portugal (1900), com desafogo económico para se dedicar exclusivamente às atividades intelectuais. Viveu em Paris, aperfeiçoou e aprendeu línguas (francesa, inglesa, holandesa, italiana e alemã) e conviveu com algumas das figuras de proa da historiografia portuguesa de então – Gama Barros, Costa Lobo, Braancamp Freire, David Lopes, Edgar Prestage, Luciano Perira da Silva, Oliveira Lima e Joaquim Bensaúde (Maria A. S.de Azevedo, «Azevedo, João Lúcio de (1855-1933)», 1963, p. 264).