A outra iniciativa teve lugar na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pela mesma altura (ano letivo de 1946-1947) e consistiu na lecionação de um curso de “Introdução à História Económica Geral”, pelo historiador belga Charles Verlinden (1907-1996), especialista em história económica. Tratou-se de um evento promovido pelo Instituto de Estudos Históricos da referida Faculdade (com o patrocínio do Instituto para a Alta Cultura), por intermédio do historiador medievalista Torquato de Sousa Soares (1903-1988). O conteúdo do curso e seu caráter inovador, no contexto historiográfico português de então, podem avalia-se pelo livro do próprio professor Charles Verlinden: Introduction à l` Histoire Économique Génerale (1948) e pelo artigo sucinto que o T. de S. Soares lhe dedicou (Torquato de Sousa Soares, «Um curso de História Económica...», 1947, pp. 671-674). A iniciativa prosseguiu nos anos letivos de 1949/1950 e 1950/1951, através de dois cursos e duas conferências de Yves Renouard (1908-1965), Diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Bordéus, sobre história económica e social medieval (João Paulo Nunes, Op. Cit., pp. 60-61).
Também a nível da investigação e da produção historiográfica uma certa inovação ia chegando a Portugal, desde finais da década de 1940. Como bem notou A. H. de Oliveira Maques: «A geração de 1939-45 teve a orientá-la – e quase todos os representantes o reconhecem expressamente – a escola francesa agrupada em torno da revista Annales. Discípulos confessos de Lucien Febvre [1878-1956] e de Marc Bloch [1886-1944] (a que em Portugal aliavam António Sérgio, não como historiador mas antes como crítico), preconizavam uma história total, integrada, que se servisse dos vários géneros de investigação histórica a fim de compreender os modelos de uma sociedade» (Oliveira Marques, Antologia..., vol. I, 1974. pp. 48-49). Na impossibilidade de analisar aqui todos os historiadores que contribuíram para o arejamento da nossa historiografia do pós-II guerra Mundial até 1974, vejamos certos vultos mais destacados desse processo, ao longo de cerca de três décadas, alguns no âmbito da universidade, outros em contexto extra-universitário. António Sérgio de Sousa (1883-1969). Estudou no Colégio Militar, na Escola Politécnica e na Escola Naval. Foi oficial de Marinha (1904-1910) e teve uma vida errante, pelo que viveu em vários países (Inglaterra, Suíça, França, Espanha e Brasil), por motivos de trabalho ou como exiliado. Candidatou-se à docência na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1912) e, de novo, à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1933), mas sem sucesso.