Por um lado, ao alertar para a necessidade de se abandonar a história tradicional dos indivíduos eminentes e de se criar uma história da sociedade: «busquemos a história da sociedade e deixemos um pouco a dos indivíduos» (apud Oliveira Marques, Antologia da historiografia..., vol. 1974, p. 30). Ora, na história da sociedade, cabe não só a história social mas igualmente a história económica. Por outro, ao publicar um impressionante acervo de fontes arquivísticas (Portugaliae Monumenta Histórica), colocou à disposição de futuros historiadores elementos essenciais para a sua pesquisa, do que muito viriam a beneficiar Alberto Sampaio, Francisco Martins Sarmento, Oliveira Martins e tantos outros, até ao presente. A própria definição de história de Herculano (1846) – «ciência social destinada a enriquecer o futuro com a experiência do passado» (Jorge Borges de Macedo, «A “História de Portugal nos séculos XVII e XVIII”..., 1971, p. 14) – aponta para a valorização de outras vertentes da realidade, inclusive a económica, para além dos tradicionais domínios político, militar e diplomático. Também atento às condições económicas do país estava Luís A. Rebelo da Silva (1822-1871). Após estudos preparatórios (em Lisboa), frequentou a Universidade de Coimbra (Matemática), mas abandonou o curso por motivos de saúde. Dedicou-se, em seguida, aos estudos humanísticos, tendo exercido posteriormente várias funções, entre as quais a de professor do Curso Superior de Letras, fundado por D. Pedro V (1859), no qual lecionou a cadeira de História. Da sua vasta obra destaca-se a História de Portugal nos séculos XVII e XVIII (5 vols., 1860-1871).
Ainda que sem o relevo que dedicou à história política, militar, administrativa e diplomática, Rebelo da Silva ocupou-se igualmente de temáticas da história económica, em várias passagens da dita obra: “A agricultura, o comércio e a indústria”, “Crise da fazenda real. Rendimentos e despezas” (vol. 3, livro II); “Os tecelões de Lisboa” (Idem); “Estado económico do paiz”. “Estagnação das fontes de riqueza”. “A agricultura, a indústria e o commercio”. “Quebra dos rendimentos públicos” (vol. IV, livro V). Foca ainda a história económica, de forma mais sistemática e desenvolvida, no vol. IV, cujo livro VI é dedicado, precisamente, ao “Estado economico e social da economia”: “População e agricultura”; “Industria fabril”. Contudo, ao comércio deu maior desenvolvimento. Assim, compreendem-se as afirmações de J. Borges Macedo: «A sua obra constitui a primeira história política que comporta orgânicamente uma história económica definida como tal». E conclui: «A história económica portuguesa foi iniciada com Rebello da Silva» (Borges de Macedo, Idem, pp. 100 e 118).