Não obstante o Conselho desta Faculdade ter votado favoravelmente a sua contratação, esta foi impedida pela tutela. Foi persistente crítico do Estado Novo e seu opositor – tendo estado preso várias vezes –, por diversos meios. Trata-se de um dos maiores vultos da cultura portuguesa do século XX, tendo-se destacado no ensaísmo, na literatura, na filosofia, nas preocupações com a educação – em especial a educação cívica –, a pedagogia, o cooperativismo e a interpretação crítica da História de Portugal. É autor de uma vasta e diversificada obra. Como já tivemos a oportunidade de me referir mais desenvolvidamente à sua vida e obra (José Amado Mendes, «A renovação da historiografia portuguesa», 1996, pp. 277-284), aqui apenas desejamos salientar o seu contributo para a interpretação da história de Portugal. Valorizou a importância das condições geográficas, bem como dos fatores socioeconómicos para o desenvolvimento do país. Criticou severamente o relevo que se tinha dado à “política de transporte”, em prejuízo a “política de fixação", ou seja, o predomínio do comércio sobre a produção. Afirmava Sérgio, em Breve Interpretação da História de Portugal (que teve grande sucesso, logo após a sua 1.ª edição, em 1972): «Toda a riqueza do Oriente passava apenas por Portugal, e ia fomentar o trabalho estrangeiro, que nos fornecia de todas as coisas» (António Sérgio, Breve interpretação da História de Portugal, 1974, p. 96). Para o autor, a história tinha um sentido instrumental, não era um fim em si mesmo mas um meio, para “forjar espíritos construtores do futuro” (Id., Idem, p. 1).
No âmbito da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no período em análise e no que concerne à história económica, destacaram-se sobretudo Virgínia Rau e Jorge Borges de Macedo. Virgínia de Bivar Robertes Rau (1907-1973). Como foi observado, V. Rau «teve o grande mérito de se ocupar e chamar a atenção dos seus alunos e colaboradores para temas de história económica e social, geralmente desprezados pela historiografia erudita» (Oliveira Marques, Antologia..., vol. I, 1974, p. 50). Fez estudos liceais em Lisboa, tendo-se em seguida matriculado na respetiva Faculdade de Letras. Em 1928 interrompeu o curso e ausentou-se para o estrangeiro (Alemanha e França), onde frequentou cursos e fez investigação histórica, em bibliotecas e arquivos, o que lhe possibilitou o contacto com as novas tendências historiográficas que então se iam afirmando, através da corrente nova história.