No solo literário, da poesia em particular, a avocada nacionalização seria ilógica, por ser a área criativa que refrata a funda singularidade linguística numa arrumação semiótica. Resumiu-se pois o programa doutrinal à coisificação da «civilização portuguesa» que reprimia distanciadas investigações. A politique d´abord dos autores da Nação Portuguesa, com António Sardinha, ensaísta da pugna tradicionalista, «recatolicizadora» e «reportuguesadora» contra a cultura republicana, laica e liberal, recobra chamas velhas da querela setecentista entre castiços e estrangeirados; L. Cabral de Moncada na polémica seiscentista com A. Sérgio e os seareiros melhor encaixa essa denúncia das «importações» ideológicas e culturais, ao condicionar a restrita agenda da operação, se bem que alargue depois qualificadas leituras da história e da filosofia do Direito, como P. Merêa, áreas transfronteiriças e úteis à história cultural, ou no campo analítico, no «iluminismo português» de Verney (1941), misticismo (1950) e krausismo. Fidelino de Figueiredo (1889-1967), à frente da Revista de História (1912-28), de Letras (S. Paulo, 1938-54) e da Sociedade Nacional de História, se vinculou uma historiografia nacionalista fê-lo atendendo à índole hispanista (Notas para um Idearium Português, 1929), colóquio com Ganivet (Idearium español, 1897), à qual tentou erigir as traves do debate teórico. Mal lido com frequência (a que não é estranho o alinhamento académico, o pleito da Biblioteca Nacional, a revolta dos fifis), Figueiredo interpretou à maneira martiniana na Geração de 70 a “heterodoxia regeneradora, que não coube no curto horizonte português” (As Duas Espanhas, 1932; na ed. de 1959; p. 193). Apegado ao campo «humanístico» e à história da literatura, também à teoria da história (O espírito histórico, 1910), visava fundar o “espírito sintético e filosófico nos estudos históricos” numa “organização interpretadora” (Torgal, Mendes & Catroga, História da história, 1996, pp. 227-31), da qual dimanariam aproximações à história literária (História da crítica literária em Portugal, Estudos de Literatura, 1915-1951, Depois de Eça de Queirós…, Antero) e ao ensaísmo, tipicamente elitista, influído pela orteguiana rebelião das massas (Menoridade da inteligência, 1932, O Dever dos intelectuais, 1935), que tipifica o “predomínio da multidão, o consequente abaixamento do nível moral e mental do homem médio, o surto de caudilhos que parasitam nessas inferioridades e as adulam, e a inegável saúde nervosa do homem multitudinário e vegetativo ante o homem de escol” (Cultura Intervalar, 1944, pp. 17-18), na época em que a vox populi ensurdecia quem vivia nas torres de marfim.