Não expulsando o idealismo analítico, Lima condiciona o saber do «passado» às mediações projetivas de uma razão histórica diltheyana na qual «histórico» é já o campo restrito que permite a apreensão do espírito, autoconhecimento da razão investigado no domínio da história da ideias, quanto terreno mesmo onde o raisonner, processo de pensamentos, se legitima na sua inteligência ideadora, assim subtraído à substancialização da cultura – e a culturalismos de diverso cariz que convergiam na sombra da tutela repressiva (Á. Ribeiro, A. Quadros, A. J. Brito) – e recusando a sua abusiva entificação. Criador de fundas páginas de original e inovadora história das ideias, caso maior de O Amor Místico, exegese que cruza a história das religiões com a psicanálise e a lição compreensivista e Hermenêutica, não a explorou na metódica para antes formular teoricamente o modelo analítico.
Sob o magistério filosófico de Vieira de Almeida em Lisboa, que não explorou o trilho empírico do estudo cultural mas o da teoria da história, e a influência ensaística de Sérgio, a investigação historiográfica foi impulsionada por uma geração notável que desbravou a pesquisa da cultura portuguesa. Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011), enveredando pela história social e económica, deixou ensaios e pistas para novas perspetivas (demografia e criação cultural, comparativismo, história da historiografia) muito úteis à historiografia da cultura, sobretudo pela solicitação da sociologia que parecia embargada; António José Saraiva (1917-1993) faz o giro de acesso à história da cultura vindo da literatura e dos estudos humanísticos (F. Figueiredo, Hernâni Cidade, R. Lapa, mesmo banido): contíguo a teses marxianas, arguidas em crescendo dada a negatividade conferida por Marx à instância ideológica e a base economicista que o materialismo dialético postulava, no proémio a Para a História da Cultura em Portugal (II vols., 1946-1961) denuncia corajosamente no eclipse da liberdade a ausência liminar das condições culturais para a investigação da história da cultura e a destituição universitária do livre munus formativo, crítico e esclarecedor do estudo de uma cultura que vive desde o séc. XVI de uma série de «irrupções descontínuas» sem «linha directriz interna»: “a Universidade está destinada a ser ultrapassada pelos acontecimentos. Já hoje é uma pequena ilha resistindo à nova ordem das coisas e à nova ordem da cultura correspondente para a qual ela não está preparada” pois se em Portugal se «nega» a cultura, as suas Faculdades de Letras são “viveiros de peixes” cujo destino será a “morte ao ar livre”, problema que não dissocia na vasta bibliografia (História da Cultura em Portugal, III vols., 1950-62; Herculano e o Liberalismo em Portugal, 1949, A tertúlia Ocidental,1995, revisão funda das suas próprias teses dos anos 40 a 60) cujo melhor situação analítica se opera na Correspondência (2004) de e para Óscar Lopes.