Mais do que às Cartas sobre a Educação da Mocidade de Ribeiro Sanches, a O Verdadeiro Método de Estudar (1746), de Luís António Verney, complementado no Apparatus, traduzido por Teodoro de Almeida na Recriação Filosófica, se deve o capital esforço sistemático por via de um fundo projeto de reforma do ensino, de aclarar senão instituir uma matriz da cultura portuguesa e metodizar suas desiguais produções, ao mesmo tempo, como salientava Sérgio (Ensaios, VII, 1954), que semeava um «apostolado cívico». Sabe-se como o nó da luta ideológica sem tréguas entre Oratorianos e Jesuítas se instituiu ao longo dos séculos XVII-XVIII, a que não será alheio o influxo do racionalismo cartesiano (ou até, depois, da física newtoniana) combatido pelo aristotelismo tomista do Curso conimbricense, filosofia peripatética ministrada pela Companhia nos colégios das Artes e no seu próprio. Nova didática e gramática, e a enfatização do estudo da história (Carta VIII) e língua pátrias (Carta I), em prejuízo da história eclesiástica e do latim – idioma de tratadistas europeus que em séculos os ligou no comum espaço linguístico –, incitava ao ensino das línguas modernas, com claro ascendente do francês e italiano, e exigia o estudo comparado e dicionarização das reciprocidades verbais, lexicais e sintáticas com o português, cuja disciplina e simplificação ortográfica propunha. Mas o repto foi insuficientemente escutado: se o dilúculo racional que o pombalismo abriu foi visível no aprendizado da empiria do mundo e das ciências exatas, pouco mais era do que ilusório nos estudos humanísticos. A ampla falha de sólida formação filosófica no ensino médio e superior condicionará negativamente a indagação histórica e filológica da cultura mátria.
Atado à hegemónica matriz canónico-teológica da universidade portuguesa, progredira o estudo institucional no campo do Direito (História Eclesiástica, História do Direito Romano e Português, História do Direito Canónico), mormente pela pena de Pascoal de Melo Freire (Historiae Juris Civilis Lusitani, 1788), mas o exame histórico da cultura, objeto autónomo, é distante, enunciado ou apenas circunscrito à tradição literária e ao estudo gramatical, poético, retórico. E no campo historiográfico, a erudição, o compêndio de fontes e a diplomática (João Pedro Ribeiro, visconde de Santarém) colhiam lógica prioridade, como em meados do séc. XIX Alexandre Herculano ainda certificará nos Portugaliae monumenta historica, empenho na retoma da tradição erudita e académica que a evanescência social e político-militar do século havia gorado, como notou Oliveira Martins («Notas sobre a historiografia», História de Portugal, 1920).