Nos sécs. XIX-XX a tarefa enciclopédica avança: o Dicionário Universal Ilustrado, por ex., dá lugar em meados do último século, à Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, o mais vasto repositório informativo, de cariz biobibliográfico mas também temático, ainda hoje útil para a propedêutica da investigação cultural até essa época. Específico, é o salto qualitativo que o Dicionário de História de Portugal ed. (1963-1971) por Joel Serrão, traduziu e introduziu na criação académica, abrindo novos horizontes no campo da história económica e social, com clara influência dos Annales, aditado (em 1999 por A. Barreto e M. F. Mónica) para o período do Estado Novo, agora na perspetiva da sociologia e politologia, útil instrumento para quem se dedique à investigação historiográfica da cultura, dos movimentos culturais e dos intelectuais, embora não encontrem aí a nuclearidade.
Mencione-se ainda que a síntese da História de Portugal (D. Peres, 1929-58) pela primeira vez abre capítulos às «instituições de cultura», a cargo de J. Carvalho, contrapeso à hegemónica história política e factual, e distante da história-apologética (J. Ameal, C. Beirão, A. Pimenta) normativa no Estado Novo e do pendor ontologizante que o «culturalismo» (Delfim Santos, Á. Ribeiro), promovendo leituras ahistóricas da identidade, iria esboçar, em função de sobredeterminações outras de teor teleológico e escatológico, retirando-lhe à história o que tem de si mesma, histor, testemunho antropológico do tempo. Ao nível de propostas sintéticas, assinala-se o boom das Histórias de Portugal que nos anos 80 e 90 veiculavam metodologias e perspetivas radicalmente distintas, senão opostas: da «nova história» que desloca a história da cultura para os movimentos intelectuais e sociais (eds.: A. Reis, A. H. de Oliveira Marques, Id. e Joel Serrão, J. Medina); e da embrionária história pósmoderna (ou post serial) que analisa a diacronia das ideias em cortes genealógicos e transversais (ed.: J. Mattoso); à história política, sucessividade «nacional» (J. Veríssimo Serrão, J. H. Saraiva), factualista e ipseísta nos tratos historiográficos, ao isolar a historicidade da cultura no episódico ou ao lê-la no sarcófago do «destino nacional».