A orientação e colaboração no referido DHP, as «sondagens» sobre temas eleitos, a Cesário Verde (1955, 1957; 1964); Sampaio Bruno (1960); Antero e a ruína do seu programa. 1871-1875 (1988, ressonância ainda gurvitchiana da leitura de Proudhon), alargando o pendor do ensaio diacrónico de conceitos e ideias-força, como o relativismo crítico indicara (Do sebastianismo ao socialismo, 1983), e da história das ideias (Da «Regeneração» à República, 1990), acentuou-se numa historiografia que não perdeu o sentido ensaístico e o veio dialético contra assertivas ilações que tendem a fixar doutrina e, mesmo se não o afirmem, a bloquear a crítica. A história da cultura é assim instável terreno de migrações e deslocações de objetos analíticos.
José-Augusto França (n. 1922) vem da arte e da literatura, como praxis e crítica em estudos apurados, para a englobante visão da cultura fixando em Os Anos Vinte em Portugal (1992), para além do próprio repositório da escritura vivida (Memórias para o século XXI, 2000), o olhar onde se cruzam veículos conceptuais, a egohistória e o olhar analítico do historiador, sem se atropelarem; indo na busca dos factos socioculturais que desde O Romantismo em Portugal (1973; 1993) perseguia: o seu Zé Povinho (1975) resiste no plano historiográfico com a plástica robustez de Bordalo. Joaquim Barradas de Carvalho (1920-80), cujo interesse pela história da ciência (Esmeraldo in Situ orbis de Duarte Pacheco, 1961; 1991; As invenções técnicas e a história da Humanidade, s. d.) não descurou a correlação com a cultura Moderna (Portugal e as origens do pensamento Moderno, 1980; O Renascimento Português, 1981), explora uma análise sociológica da cultura que mais o aproxima de Vítor de Sá (1921-2003), um grande animador do Centro de História da Universidade do Porto, em quem certa influência de J. Carvalho se detém no campo metódico que não no interpretativo (após Amorim Viana e Proudhon, 1960), menos de Óscar Lopes, atento à relativa emancipação «superestrutural», quando se coteja, caso mais claro, o Antero de Quental (2ª ed., 1977) de Sá com o seu Antero de Quental. Vida e legado de uma Utopia (1983). Maria Helena da Rocha Pereira (n. 1925), não sondando a historiografia dura, nas notáveis lições (Estudos de História da Cultura Clássica, I e II), antologias e traduções, finca singular plano para o estudo da cultura clássica, moderna e contemporânea (daí sábias evasões em Camões e Pessoa), exigindo um ensino que curricularmente não degrade os estudos humanísticos, e neles a larga visão cultural que qualquer historiografia carece.