J. S. Silva Dias (1916-1994) primeiro em Coimbra (1958-79) depois na Universidade Nova de Lisboa (FCSH, 1980-86, onde fundaria a revista Cultura – História e Filosofia), tendeu a ler na história da cultura a história das ideias, i e., dos grandes movimentos ideológicos (políticos, religiosos, filosóficos, artísticos) em analogia ou afinidade com a historiografia filosófica e cultural germânica que, doutro lado, L. Fèbvre iniciara no estudo monumental de Lutero. Em rigor, coube-lhe em Coimbra iniciar disciplinas, facultadas na reforma universitária de 1957, que pela primeira vez, embora o magistério de J. Carvalho introduzisse a via, visavam a autonomia metodológica e epistémica, em sede historiográfica, da história da cultura (História da Cultura Portuguesa, História da Cultura Moderna; Seminário de Cultura Portuguesa), projeto que, após o 25 de abril de 1974, lhe possibilitaria fundar e consolidar o Instituto de História e Teoria das Ideias (FLUC) e a influente Revista de História das Ideias (1977), hoje sob direção de F. Catroga.
Próximo na juventude das doutrinas integristas e integralistas (Escândalo da Verdade; 1943, O problema da Europa, 1945; Humanismo social, 1949), Silva Dias da recolha sistemática de fontes coligiu em Portugal e a Cultura Europeia. Séculos XVI a XVIII (1952) vasto material que indiciava já uma das obras de referência, Correntes do sentimento religioso em Portugal. Séculos XVI a XVII (II ts., 1960) cuja ausência do II vol., não editado, não diminui a visão epocal e global ordenada às “atitudes e pensamento e das expressões vitais da sensibilidade religiosa, em face dos problemas da vivência e da concepção do Cristianismo nas suas relações com a realização do destino do homem no Cosmos” e “suas projeções espirituais num ciclo dado de cultura” (ib., X). Daqui que a função desambiguadora de A Política Cultural da Época de D. João III, 1969, Os Descobrimentos e a Problemática cultural do século XVI, 1973, O Erasmismo e a Inquisição em Portugal, 1975, se bipolarizassem no corolário semântico sacralização / dessacralização (leiam-se Pombalismo e Projeto Político, 1984, ou Os Primórdios da Maçonaria Portuguesa, 1980, de colaboração com Graça Silva Dias) que norteou uma investigação com vivo rasto em Coimbra (cf. O Sagrado e o Profano, RHI, 1986 e 87) e Lisboa (na história das ideias políticas, J. Esteves Pereira, Z. Osório de Castro, esta crescentemente atraída pela história das ideias no feminino). No esforço dessa desambiguação historiográfica será representante maior, mas já a partir da década de setenta, Fernando Catroga, que elegerá Morte-Memória-Dessacralização como o fulcro da sua história cultural.