Antes da Biblioteca, Martins edita o ensaio a vários títulos inovador: Camões, Os Lusíadas e a Renascença em Portugal (1872;1891), instando a diacronia da «intuição simbólica», sensibilidade e fantasia criativas, no exame do paganismo e neoplatonismo do poema (cap. IV) atado à biografia e época de Camões, para explicitar na pátria afetiva o objeto de uma «vontade coletiva» que sobrepuje o etnicismo e ache lição eficaz na história e no seu próprio húmus cultural. Na exploração da vertente psicologista, ao arar a via idiossincrática da qual é a protomemória, Martins marca a ulterior obra, aberta a explicitações ontogenéticas e orgânico-evolutivas que ao longo de uma centúria tiveram chão para medrar. A exegese psicológica do sebastianismo como “manifestação do génio natural íntimo da raça”, “abdicação da história”, “explosão simples da desesperança”, criticamente pesada depois pelo ensaísmo de S. Bruno, A. Sérgio, A. J. Saraiva e E. Lourenço, persistirá como um dos grandes mitos culturais (saudade (.) do que ia morrendo aos poucos, J. Serrão, Do sebastianismo ao socialismo, 1969-1988) ao longo do séc. XX, assim como, noutra vertente, a visão organicista da história e da nação possibilitará a radicação «cultural» no corporativismo medievo, tema dos temas da historiografia unitarista e nacionalista, cartilha que o salazarismo oficializa nas suas escolas, púlpitos e tribunas.
No último quartel do séc. XIX releva a obra de Teófilo Braga (1843-1924), na inovação metodológica eduzida do positivismo francês, do organicismo e evolucionismo sistémico de Mill e Spencer, e por atender à autonomia do facto cultural, coisificando-o porém. A par do prolixo comentário do sistema comtiano, filtrado do elitismo por Littré (cf. rev. O Positivismo; Traços gerais da filosofia positiva, 1877; Sistema de sociologia, 1908), Teófilo evidenciou a urgência de historiar a produção literária: História da literatura portuguesa. Introdução, 1870 (e a réplica a Antero, Martins e P. Chagas, Os críticos da Hist. da literatura portuguesa, 1872, que o arguíam, no dizer de Antero, por suster a escola etnológica no estudo da cultura), Hist. da Poesia Portuguesa, 1870-72, Teoria da história da literatura portuguesa, 1872; 1895, Manual de Hist. da Literatura Portuguesa, 1875, Hist. do romantismo português, 1880, Modernas ideias da literatura portuguesa, 1892, sem excluir instituições da cultura e ensino, estudo vulgarizado pela historiografia alemã e francesa, e na senda de J. Silvestre Ribeiro (História dos estabelecimentos científicos, literários e artísticos, 1871-89), sobretudo na História da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrução pública portuguesa (4 vols., 1892-1902), que só um século depois terá réplica à altura, Universidade(s). História. Memória. Perspectivas (Coimbra, 1991, VII centenário).