A nova geração que se afirma nesses anos no campos da história e do ensaio - V.Magalhães Godinho, António José Saraiva, Óscar Lopes, Joel Serrão, Fernando Piteira Santos, Barradas de Carvalho, Jorge Borges de Macedo, Armando Castro para só citarmos historiadores - animada pela derrota dos regimes totalitários de direita, procedeu à crítica do ambiente cultural que então se vivia, por exemplo no que resepita ao comemorativismo histórico do Estado Novo como expressão de um nacionalismo estéril (V.M.Godinho, Comemorações..., 1947). Vitorino Magalhães Godinho identificou os factores de crise da historiografia e foi pioneiro de um processo de renovação abrindo um horizonte de novas perspectivas e problemas (vd. “A crise da História....”, Ensaios III, 1971 [1946]).
Esta geração viveu um exílio cultural – e territorial pois alguns tiveram que se expatriar – e foi construindo uma contra-narrativa, claramente divergente em relação à narrativa tradicionalista, étnica e conservadora do Estado Novo. Entre os intelectuais que então se afirmaram ganhou destaque, no domínio da história, o conceito de classe. Refiram-se, entre outros, os historiadores ligados ao Partido Comunista Português: Costa Dias, Flausino Torres, Victor de Sá, Fernando Piteira Santos, Joaquim Barradas de Carvalho, Armando de Castro, António Borges Coelho, José Tengarrinha, todos eles herdeiros do pensamento histórico liberal-radical, republicano e socialista.
Os problemas que então se discutiam na historiografia portuguesa dos anos 60, já muito marcada pela corrente dos Annales e pelo marxismo (só mais tarde pelo estruturalismo), abrangiam o conceito de revolução, o carácter social das revoluções liberais, o alegado fracasso da revolução industrial e da construção de uma sociedade burguesa, as limitações das reformas sociais e económicas empreendidas pelas elites, as relações com o Brasil colonial e pós-colonial, a dependência em relação à Inglaterra e, naturalmente, problema dos problemas, o atraso económico – visto sobretudo em comparação com a Inglaterra, considerada caso padrão (mas já também com a França e a Espanha). Note-se que o alegado fracasso da revolução industrial e da persistência de estruturas sociais e económicas do Antigo Regime que Vitorino Magalhães Godinho perfilha em Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa (1ª ed. 1971) constitui uma tese também muito em voga na historiografia espanhola da época (Jose Maria Jover Zamaora, Tuñon de Lara, Jordi Nadal).