Em muitos destes textos afirma-se uma intencionalidade de enraizamento histórico em que domina uma teoria teleológica de progresso e de sucesso da nação que viria a ser parodiada por Eça de Queiroz. A história tornou-se um dos grandes instrumentos de resistência aos projectos iberistas, unitaristas ou federalistas. Invocava-se o passado para sublinhar uma coesão nacional de sete séculos e impedir a possibilidade de um futuro que romperia com ela.
Embora apologista de um certo iberismo cultural, Oliveira Martins rejeitou qualquer forma de integração política peninsular. Herdou a atitude crítica de Herculano em relação às tradições míticas mas foi mais longe. Num tempo europeu marcado pela unificação política da Itália, a emergência do II Império alemão e a derrota militar da França, Martins constrói a contra-narrativa mais convincente de denúncia da “decadência” a que chegara a nação, nos antípodas do paradigma dominante da narrativa de sucessos, triunfalista, comandada por uma noção linear de progresso. Não surpreende pois que essa sua narrativa trágica da deriva nacional tenha sido apropriada como arma política pelos republicanos contra a monarquia constitucional.
O autor do Portugal Contemporâneo foi também o mais eloquente crítico do modelo de desenvolvimento fontista e, por outro lado, o crítico mais mordaz do comemorativismo histórico que se praticava no regime constitucional (mas que este não conseguiu capitalizar a seu favor) no âmbito de uma inspiração positivista : “Não se vive de glórias passadas, existe-se por via de forças actuais. Arremeter com foguetes no 1º de Dezembro de cada ano, parece caricato quando em toda a gente há a consciência da nossa fraqueza militar. Solenizar em navios de papelão dourado as esquadras passadas, de uma nação que deixou de ter marinha. Não será burlesco? Não levará a reduzir o patriotismo a um sentimento de teatro, e a vida nacional a uma ópera?” ( O.Martins, “A HP e os seus críticos”, História de Portugal, s.d., I, [1880], 225). Martins punha em causa um patriotismo retrospectivo e retórico que encontrava os seus modelos no passado, como se este fosse uma Idade de Ouro sempre superior ao presente – um antigo regime de historicidade, para empregarmos o conceito de F.Hartog (Hartog, Régimes...2003).