Por outro lado, no caso das historiografias peninsulares, a invenção dos inimigos (anglo-saxões, protestantes, franceses, castelhanos) contribuiu decerto para a radicalização dos nacionalismos tradicionalistas. Deve ainda compreender-se o culto intensivo do passado e da sua história pelas elites portuguesas tendo em conta que a iniciativa partiu não só do Estado mas de historiadores que, até meados do século XX, foram sobretudo autodidactas, não-profissionais. É que em Portugal os historiadores profissionais académicos foram, até muito tarde, uma escassa minoria – o que é , guardadas as diferenças, comparável ao que se passou nos casos da Grã-Bretanha e da Espanha. Ao invés do que se passou a este respeito na Alemanha ou mesmo em França, o sistema de aulas em seminário e os doutoramentos foram tardios.
Mas a definição de uma singularidade portuguesa só poderá resultar de um estudo comparado com outras casos europeus. Decerto deverá considerar-se um forte sentido de pertença que não terá passado tanto pela cultura letrada erudita antes por um patriotismo localista (Joaquim de Carvalho). Uma língua e uma religião largamente maioritárias, uma fronteira antiga e estável. a ausência de conflitos étnicos problemas de integração regional comparáveis aos que ocorreram noutros países do Ocidente europeu, bem como a carência de recursos económicos e financeiros porderão explicar o baixo investimento do sistema de educação pública, incluindo a Universidade. O que também ajudará a compreender o voluntarismo de uma elite que viveu não raro distante dos problemas reais dos grupos populares. A nação foi sendo construída bem antes do nacionalismo. Isto é, no caso português, não foi tanto o nacionalismo que criou a nação mas mais o movimento inverso, isto é: as elites nacionais é que forjaram os nacionalismos. Dentro dessas elites os historiadores ocuparam, até aos anos 70 do século XX, um lugar significativo.
No decénio de 1970 os nacionalismos deixaram de marcar a agenda historiográfica. A sua rejeição levou até que o Império se tornasse um tema quase maldito. Mas após a revolução de 1974-75, depressa a própria nação, sujeita a profundas alterações estruturais e territoriais, a par dos nacionalismos e acompanhando assim uma tendência europeia e ocidental, se tornou objecto central de estudo.