Entre os exilados, refiram-se, entre muitos outros, Rafael Altamira, Sanchez Albornoz ou Americo Castro, que estiveram em estreito contacto com outras culturas históricas e universidades europeias e americanas. A guerra civil e a ditadura interromperam o processo de profissionalização dos historiadores (cuja etapa principal I Peiró situa entre 1920 e 1936). Poder-se-á dizer o mesmo no caso do Estado Novo de Salazar? Se é certo que o regime português nasceu no seio de uma Ditadura Militar, não resultou contudo da radicalização de uma guerra civil e não obrigou a um exílio em massa daqueles que com ele divergiam. Mas muitos intelectuais e militantes oposicionistas viram-se obrigados a sair do país. É sabido que houve demissões compulsivas de numerosos professores universitários (lembrem-se os historiadores Rodrigues Lapa e Sílvio Lima). Outros, constrangidos pela ausência de liberdade, exilaram-se (casos de Vitorino Magalhães Godinho e António José Saraiva). E muitos só seriam admitidos nas universidades já após a queda do regime (Barradas de Carvalho, Joel Serrão, Borges Coelho, entre muitos outros). Em 1934, a Imprensa da Universidade de Coimbra, dirigida pelo notável historiador Joaquim de Carvalho, foi encerrada. E houve censura de obras historiográficas: refira-se a História de Portugal de António Sérgio, cujo primeiro volume foi apreendido pela censura logo em 1941 (a obra seria interrompida pelo autor), ou Raízes da expansão portuguesa, de António Borges Coelho, em 1964.
Se a instauração do Estado Novo, nos anos 30, marca um novo tempo no que respeita às condições de produção da escrita da história, particularmente no que respeita ao ensino público e às universidades, o facto de o regime se ter erguido sobre os escombros de uma instável Ditadura Militar que durou seis anos atenuou porventura o sentido de corte com esses anos – a ruptura deu-se sim com a tradição liberal da I República. Mas nada que se compare à radicalidade da Guerra Civil espanhola e do franquismo que andou associado ao tópico de uma cruzada nacionalista, católica e anti-comunista. Em Portugal, os historiadores liberais, republicanos e socialistas continuaram a publicar as suas obras, em condições difíceis, vigiados por uma apertada censura. No entanto, continuaram a fazer ouvir a sua voz e a debater ideias em publicações periódicas como a Seara Nova ou a Vértice. Por outro lado, entre o nacionalismo imperial do Estado Novo e o nacionalismo liberal e republicano, verificou-se, em diversos aspectos, uma continuidade, nomeadamente no que toca à atitude em relação às colónias: até aos anos 60, de uma maneira geral, as oposições ao regime não punham em causa o império (raras vozes defenderam a venda de territórios coloniais).