Sempre establecendo uma conexão íntima entre um conceito de história-crítica e o imperativo de cidadania. Não se pode pois dizer que este conceito de história envolvesse um programa unitário e indiferenciado de nacionalização dos portugueses.
Não deve ainda esquecer-se que a historiografia teve um eco limitado a uma elite. Outras géneros ou suportes de expressão como o romance histórico, o teatro, a poesia, a oratória e até as artes plásticas terão porventura alcançado maior eficácia na socialização política dos portugueses. Todavia, certo é que os historiadores tiveram uma acção directa no processo de nacionalização no século XIX, mais nesta centúria do que no século XX, acção que importa conhecer melhor, sobretudo no que respeita ao século passado. Muitos deles exerceram cargos públicos e mantiveram estreito contacto com os seus leitores através dos meios de comunicação social. Mas hoje em dia, no tempo em que se multiplicam as solicitações tecnológicas e a sociedade da informação e do espectáculo domina, a sua função social e cívica tende a restringir-se a uma pequena margem.
Em Portugal, os historiadores mantiveram uma relação com o nacionalismo muito polarizada e tensa: de um lado um forte historicismo nacionalista e imperial que acentuou o tópico da missão “civilizadora” e até missão “evangélica” dos Portugueses no seu contacto com outros povos; por outro, uma posição muito crítica em relação a essa retórica e aos ritualismos de um nacionalismo muito virado para o passado. No entanto, a partir de 1945, com a queda dos exclusivismos fascistas, escrever histórias nacionalistas tornou-se problemático em toda a Europa (S.Berger, The past as history..., 2015, p.369).
Por outro lado a relação entre historiografia e nacionalismo passou também pela relação entre dentro e fora e pela drástica alteração das condições de trabalho dos historiadores que se operou com a instauração das ditaduras. O que também envolve a problemática dos exílios, no exterior e no interior. Em Espanha, o franquismo obrigou muitos historiadores a exilarem-se nas Américas e em alguns países europeus, cindindo o campo historiográfico em duas partes: a do exílio, que manteve a continuidade com os valores liberales e a do interior, sujeita ao controlo político-ideológico da dictadura e da censura.