Afirmava-se então o interesse pelo século XIX (só depois pela I República), esquecido nas universidades e não raro confundido com jornalismo, política e sociologia e, assim sendo, a evitar pelo poder.
Como lidaram os historiadores marxistas com os conceitos de classe e nação? Poder-se-ia pensar que em nome do internacionalismo comunista rejeitariam um ponto de vista nacionalista. Nada mais equívoco. Na verdade, a historiografia inspirada no marxismo valorizou o ponto de vista nacional (J.Neves, Comunismo...) e identificou por vezes os inimigos da nação – por exemplo, em 1383 e em 1580 fracções dos grupos sociais possidentes, da nobreza e do clero - com os interesses castelhanos (J. Guedes Sousa, “Vértice”, DHP, p.3). Por exemplo, Álvaro Cunhal foi um dos autores que difundiu a tese segundo a qual as classes possidentes sempre preferiram o domínio estrangeiro à tomada do poder pelas forças progressistas e revolucionárias. E considerou que foi a “revolução burguesa” dos finais do século XIV que levou Portugal a realizar “a epopeia dos descobrimentos” (A. Cunhal, As lutas de classes..., 1975, pp. 66 e 97) – ideia partilhada até certo ponto por Borges Coelho. E Victor de Sá valorizou o proteccionismo económico que o liberalismo radical setembrista defendeu – ou seja um nacionalismo económico, associando-o ao empenho nas actividades produtivas (indústria, agricultura).
Do lado da narrativa conservadora, católica e estadonovista poder-se-iam convocar numerosos casos reveladores de intromissão de um nacionalismo exclusivista e de preconceitos políticos na escrita da história. Refira-se, a título de exemplo, a tese segundo a qual a expansão ultramarina era um serviço de Deus, comandado pelo espírito de cruzada. Ou, nos livros escolares, a explicação segundo a qual a não entrada de Portugal na II Guerra Mundial ter-se-ia ficado a dever a Salazar, que assim messianicamente teria salvado a nação.
Poder-se-á contudo considerar que houve em Portugal, nos séculos XIX e XX, um programa sistemático de nacionalização dos portugueses – ou seja de formação de cidadãos imbuídos de uma consciência nacional – através da historiografia?