Mas esse programa não foi totalmente unânime, entre os apoiantes do regime houve divergências significativas (S.C.Matos, História, mitologia..., 1990, 129-131), como de resto sucedeu em Espanha (Saz, “La Españas del franquismo...”, 2009, 152-164). A Academia Portuguesa da História, fundada em 1936, enquadra-se neste contexto e retomava o propósito que se vinha afirmando entre os tradicionalistas de revisão da história nacional num sentido nacionalista (embora nela coexistissem historiadores de orientações diversas). Um dos seus objectivos era “1º Estimular e coordenar os esforços tendentes à investigação, revisão e rectificação da história nacional, no sentido superior da contribuição portuguesa para o progresso da civilização, bem como enriquecer a documentação dos inauferíveis direitos de Portugal” (decreto n.º 27 913, 31de Julho de 1937 , art. 2º).
O nacionalismo dominante, retrospectivo e historicista, valorizava tópicos-chave como a missão evangélica da nação e do seu império, a civilização lusíada, o mito da cruzada na resistência ao Islão, tradições míticas como a da identificação entre Portugueses e Lusitanos (e até, em certos casos ainda o milagre de Ourique) e heróis-tipo como Nuno Álvares e o Infante D. Henrique. Tais tópicos cristalizam ainda no V centenário da morte do Infante D.Henrique, em 1960 (S.C.Matos, Consciência histórica..., 2008, pp. 148-157). Mas por essa época que já era de crise do regime - campanha presidencial de 1958, tentativas de golpes militares em 1959 e 1961, início da guerra colonial, 1961, crise académica de 1962 - notava-se já a erosão desta cultura histórica nacionalista e imperial.
No Estado Novo dominava um nacionalismo defensivo, embora no plano da linguagem possa por vezes parecer o contrário - o franquismo foi bem mais ofensivo - um nacionalismo que não caminhava no sentido do alargamento do espaço público de cidadania antes na mobilização ideológica e sectária comandada pela ideologia dominante. Um nacionalismo sem movimento nacionalista, dir-se-ia - a União Nacional era um partido de quadros e não um partido de massas. A par da desvalorização da política como exercício de direitos cívicos, incentivava-se a desmobilização e o refluxo no espaço privado (lembrem-se os quadros afixados nas escolas com as mensagens de Salazar, “A lição de Salazar”).