Foi assim que, nos anos 10 e 20 do séc. XX, António Sardinha e o grupo do Integralismo Lusitano deram prioridade a uma revisão do percurso histórico nacional à luz dos conceitos de tradição e raça, substituindo a narrativa liberal e republicana de decadência (projectando-a antes no século XIX e responsabilizando a revolução liberal, a maçonaria e o judaísmo por esse declínio). Em oposição à I República, Sardinha construiu um nacionalismo tradicionalista, contra-revolucionário e católico-romano, de forte marca historicista e assente num conceito orgânico de nação.
A este nacionalismo conservador opôs-se um universalismo humanista – o da Seara Nova - que não enjeita um patriotismo prospectivo e um nacionalismo ecuménico, entendido como “legítimo nacionalismo”, isto é, “estudo e elaboração das realidades nacionais feitos sob os métodos e finalidade de um espírito universal” (A.Sérgio, Ensaios I, 1980 [1920], p. 64). Posição universalista que, no caso de António Sérgio, se fundamentou numa teoria europeísta da independência de Portugal. Por seu lado, Jaime Cortesão desenvolveu uma tese que, colocando em evidência o condicionalismo geográfico, valoriza o factor democrático – a participação popular em momentos decisivos do percurso histórico nacional como a revolução de 1383. Tanto A.Sérgio como Cortesão sublinhavam o cosmopolitismo na história de Portugal – patente, por exemplo, nos descobrimentos marítimos - por oposição à tendência para o isolamento e ao arcaísmo (também aqui divergiam do Integralismo pois este rejeitava o cosmopolitismo em nome de um universalismo católico).
Tal posição crítica enfrentou depois o nacionalismo exclusivista do Estado Novo. No plano da história ensinada, a Ditadura Militar tinha adoptado pouco antes da ascensão de Salazar a presidente do conselho (decreto nº 21103, 15-04-1932 de Gustavo Cordeiro Ramos), um rígido programa estatal de instrumentalização da memória da nação: identificavam-se os princípios que deviam ser glorificados (família, fé, autoridade, firmeza do governo, respeito da hierarquia) e os que deviam ser censurados (enfraquecimento da confiança no futuro, ausência de culto dos heróis). Era todo um programa de doutrinação nacionalista que se alargará em termos sistemáticos a partir de 1936, com Carneiro Pacheco no Ministério da Educação: só devia ensinar-se o que enaltecesse a glória nacional e devia omitir-se tudo o que as diminuísse.