Tal como no caso espanhol, o nacionalismo liberal cujas raízes se evidenciam já no confronto com o expansionismo napoleónico e depois com a tutela britânica sobre Portugal, legitima-se enraizando-se numa teoria de constitucionalismo histórico que invoca instituições originárias na Idade Média - daí a relevância que nele assumem conceitos como cortes, leis fundamentais e constituição, entre outras, em autores como Hipólito José da Costa, Rocha Loureiro ou José Liberato Freire de Carvalho – todos eles jornalistas exilados em Londres. Este último adoptou aliás uma posição muito crítica em relação à dependência de Portugal para com a Inglaterra que ressurgirá posteriormente em historiadores republicanos e socialistas.
O interesse pragmático pela história prossegue nos anos 30 e 40 quando se desenvolve a polémica internacional acerca da prioridade dos descobrimentos na costa ocidental africana. Nela se envolveu uma revista como os Anais Marítimos e Coloniais, ligados a uma associação de ofociais da marinha - a Associação Marítima e Colonial -, difundindo a posição portuguesa (1840-46). O Visconde de Santarém teve um papel destacado na argumentação histórica contra a tese patrocinada pelo estado francês (mas não se esqueça o Cardeal Saraiva). Estavam em causa interesses coloniais portugueses em África. Na obra de Santarém é muito evidente a relação entre história e diplomacia - a primeira ao serviço da segunda - para demonstrar os direitos históricos de Portugal a pontos da costa africana como Molembo, Cabinda e Ambriz (S.C.Matos, Consciência histórica..., 2008, pp.53-56). Santarém era adepto do antigo regime político, o que não comprometeu de modo algum o seu envolvimento na defesa dos interesses do Estado liberal na sua política externa (D. E. Protásio, Pensamento histórico... 2016).
Alexandre Herculano não terá estabelecido uma ruptura com a história que se praticava antes dele na Academia das Ciências (J.B.Macedo, Alexandre Herculano..., 1980, pp.14-16). Mas tendo começado pelo jornalismo e pelo romance histórico no início do decénio de 1840, marcou de um modo muito claro a distanciação crítica em relação ao que designava de história fabulosa – isto é uma história que aceitava tradições míticas como a que identificava os Portugueses com os Lusitanos ou a que erigia o milagre de Ourique e as supostas Cortes de Lamego nas origens da independência de Portugal – para não aludir à velha tradição de uma linhagem de reis mitológicos iniciada com Túbal.