Cerca de sessenta anos depois, nos primórdios da II Guerra Mundial, Fernando Piteira Santos retomaria esta atitude anti-historicista e anti-passadista de culto de glórias “irremediavelmente passadas”, apelando à luta quotidiana “por um presente melhor” (cit. em José Neves, Comunismo e nacionalismo... 2008, 305).
Voltando a 1880: na polémica entre Eça de Queiroz e Pinheiro Chagas nota-se um duplo equívoco (Eça baseava-se na visão crítica de Oliveira Martins acerca do império português oriental e não lera a História de Portugal de Pinheiro Chagas). Mas a intervenção de Eça nesta polémica é extremamente significativa pois nela distingue dois tipos de patriotismo: o patriotismo retórico “patriotaça” e o patriotismo construtivo, voltado para a acção no presente. Evidentemente, patriotismo não é sinónimo de nacionalismo, pois este, além de sentimento e consciência nacional, envolve movimento e doutrina política. O que importa sublinhar é que no quadro do nacionalismo liberal se estabeleciam relações muito diversas com o tempo e a experiência histórica: uma, marcada por uma atitude passadista, acentuava a continuidade com o passado, como se fosse possível repeti-lo no presente: história magistra vitae; outra, bem distinta, ao invés, caracteriza-se por uma atitude prospectiva e futurante.
No contexto de uma teoria positivista e étnica da nação que valoriza o papel do povo, Teófilo Braga dissociou nação e monarquia (dinastia de Bragança), vendo esta como um “corpo estranho”. E acentuou a oposição entre o pensamento federal – que via como ideia força da história nacional – e a unificação num grande estado que se afirmou na história moderna (T.Braga, A pátria portuguesa, 1894, pp.X e 153). O seu conceito étnico de nação teve assinalável fortuna simultaneamente entre historiadores republicanos e entre tradicionalistas, defensores de uma monarquia orgânica – o que mostra bem que as distinções no plano do pensamento político não devem aplicar-se à compreensão do pensamento histórico (há uma autonomia do pensamento histórico que deve ser respeitada).
Tal como na Revue Historique de Gabriel Monod, em Portugal os eruditos de finais do século XIX e princípios do séc. XX, adoptaram um registo de história positiva, aparentemente distanciada em relação às questões doutrinárias (A.Braamcamp Freire, Gama Barros, Cristovão Aires, entre outros).