Um nacionalismo que tentou anular a conflitos sociais e políticos (L.Trindade, O estranho caso do nacionalismo português, 2008, p.269), em contraste com a agudização que tinha narcado a I República. “Manda quem pode, obedece quem deve” era um lema em voga no Estado Novo. Salazar referia-se ao “viver habitualmente” como um habitus dos Portugueses – leia-se viver apoliticamente, fora da política. Talvez por isso, os historiadores oposicionistas, herdeiros da cultura política liberal, tenham feito do tópico da ausência de espírito de cidadania um problema central do Portugal liberal no século XIX. Ao invés do que terá sucedido em Espanha no tempo do franquismo - as duas experiências republicanas que o antecederam tinham terminado em conflito militar. Nas ditaduras dominava um nacionalismo retórico, de prestígio (Anthony Smith), voltado para o passado imperial.
Historiadores universitários e eruditos que deram relavantes contributos para a historiografia portuguesa – caso de Paulo Merêa em 1940 ou de Torcato de Sousa Soares em 1962 – consideravam que o patriotismo não era incompatível com a objectividade em história (A. Oliveira, “Seis décadas de história...”, 2011, 46). Dentro de certas condições: aquando do Congresso do Mundo Português (1940), afirmava Paulo Merêa: “A verdade histórica e o sentimento patriótico não colidem, desde que este não seja uma contemplação saudosista das glórias passadas, nem uma exacerbação megalómana do orgulho colectivo, mas sim uma consciência serena e legitimamente entusiástica do nosso valor, do nosso papel e do nosso ideal”. O historiador valorizava a história como instrumento de consciência de si de um povo, sob a condição indispensável de “não a deformar”. E retomando Oliveira Martins (sem o citar), considerava que as comemorações do duplo centenário de 1940, então a decorrer, deveriam ter a “a profundidade e a gravidade dum exame de consciência” (P.Merêa, “Os Congressos...”, 1941, p.338).
Desde os anos 40 difundiam-se as contra-culturas neo-realista e surrealista. Afirmava-se na Universidade e à margem dela – em associações culturais como o Ateneu Comercial de Lisboa ou em passeios informais como os realizados de barco, no Tejo, nos anos 40, a Vila-Franca de Xira -, um pensamento crítico que herdara a narrativa republicana e laica do percurso histórico nacional.