Foi decerto uma arreigada ideia nacionalista que o levou a admitir a autenticidade do milagre de Ourique e da Escola de Sagres, ou recusar o conceito de hispanidade (Novos estudos..., 1935, p.68-71). Note-se, contudo, que na sua História de Portugal (1940), João Ameal incluía um último capítulo intitulado “Reconquista da ordem”, em que abordava o passado bem recente e fazia a apologia de Salazar e da sua política, em contraste com a “balbúrdia sanguinolenta” da I República (J.Ameal, História de Portugal, pp.689-733).
Para os tradicionalistas, o século XIX, considerado um século estúpido, dominado pelo liberalismo e pelas revoluções e hegemonizado pela memória liberal, devia ser objecto de profunda revisão histórica. Ora, como se disse, essa revisão só chegou, no caso português, com a geração do Integralismo Lusitano. Mas se excepturamos a extensa História de Portugal de Fortunato de Almeida (1922-29) – aliás em não sintonia com os integralistas - seria preciso esperar pelo decénio de 1930, para que dentro desta orientação, surgissem dois manuais de história geral de desigual valor e extensão, os de Alfredo Pimenta e João Ameal (até lá, havia apenas alguns ensaios de outros autores, entre eles o próprio mestre do Integralismo, António Sardinha). E o estudo especializado do século XIX, excluído ou secundarizado na universidade, acabaria por ser cultivado fora dela por historiadores marcados pelos Annales (Joel Serrão, Magalhães Godinho, J. Augusto França) e pelo marxismo (Armando Castro, Costa Dias, Victor de Sá, Alberto Ferreira, José Tengarrinha). Note-se contudo que também em França, na mesma época, o interesse pela história contemporânea era minoritário no ensino superior. Não surpreende pois que nas universidades portuguesas continuasse a dominar o estudo das épocas medieval e moderna. E no caso espanhol, se a dedicação à história contemporânea foi minoritária, foram os historiadores tradicionalistas e integristas que tomaram a iniciativa de cultivar a história política do século XIX (I.Peiró, Idem, 2012).
Haverá uma especificidade do caso português no que respeita à relação dos historiadores portugueses com o nacionalismo? Talvez esta especificidade esteja relacionada com a escala da nação, a desproporção entre passado e presente, entre a dimensão da metrópole portuguesa e seu império - não ajudará isto a compreender o irrealismo do discurso nacionalista (Eduardo Lourenço), no longo tempo das ditaduras quer em Portugal (1926-1974) - mas também em Espanha (1923-31 e 1936-75)?