Refiram-se, no entanto, três intelectuais portugueses, oriundos de formações diferentes, cujos estudos fizeram emergir novas direcções de investigação: Ilídio do Amaral e os seus estudos que cruzam a geografia e a história dos espaços colonizados, António Carreira que trabalhou a tão manipulada questão da escravatura dos africanos e Avelino Teixeira da Mota, que, de certa forma, inaugurou uma leitura mais autónoma da história dos povos africanos da Guiné, que visitara nos anos 50, acompanhado de Raymond Mauny, o historiador francês que, tendo sido quadro colonial, viria, como outros europeus, a rever as perspectivas historiográficas coloniais, a valorizar as fontes orais, a interessar-se pela história dos povos africanos, integrando-a no ensino universitário francês.
O fim da epopeia colonial europeia permitiu a revisão conceptual e metodológica que dava conta da crescente consciência intelectual da indispensabilidade do trabalho interdisciplinar, contribuindo para uma ‘descolonização’ do conhecimento e o desenvolvimento autónomo das historiografias dos antigos povos colonizados. Historiadores estrangeiros como os ingleses Charles Boxer e David Birmingham, o americano Joseph Miller, o belga Jan Vansina, o francês René Pélissier que se debruçaram sobre questões históricas da colonização portuguesa não conheceram escasso eco e, mais habitualmente censura, no espaço português. É certo que obra de Boxer começou por ter alguma recepção positiva junto das entidades oficiais do Estado Novo (foi o representante britânico na abertura do Congresso Internacional de História dos Descobrimentos de 1960, académico da Academia Portuguesa de História, e doutor honoris causa pela Universidade de Lisboa em 1953). Mas logo se cavou um distanciamento após a publicação do seu livro Race Relations... (1963).
A historiografia portuguesa, apesar de algumas vozes incómodas e de raras publicações denunciando a manipulação da história colonial - como pequenas formulações introduzidas no Dicionário da História de Portugal dirigido por Joel Serrão (1963-1971) e as contribuições de intelectuais portugueses exilados como Barradas de Carvalho, António José Saraiva, Luís de Matos e sobretudo Alfredo Margarido - manteve-se cega perante as mudanças epistemológicas mundiais.