A historiografia de Angola, a colónia que representava o modelo mais ‘lusamente’ elaborado do império português, só podia seguir as perspectivas definidas no quadro historiográfico consagrado à «África Portuguesa». Todos os elementos de afirmação civilizacional - Estados, sistemas socio- económicos, formas religiosas, fronteiras e organização dos territórios, estratégias relacionais, dinâmicas culturais - não podiam ser africanos, pelo que só a instalação dos portugueses permitia o acesso à história, ao conhecimento, aos valores da civilização, às manifestações do progresso.
A organização da história de Angola elaborada quase exclusivamente por historiadores portugueses, profissionais ou amadores, não podia separar-se do quadro ideológico da historiografia portuguesa, procurando provar a existência de uma hegemonia portuguesa indiscutível, que fornecia o eixo central da leitura dos factos angolanos. Esta história era assim marcada pela ocultação dos angolanos, orientando-se através de um inventário de temas preferenciais, contendo factos, regiões e populações em função das ‘verdades históricas’ que permitiam justificar a ‘portugalização’ de Angola.
Mas se a maioria dos autores respeitava as condições socio-históricas de um Portugal colonial, a escrita da história de Angola não podia constituir um tecido homogéneo. Podemos identificar três tipos de escritas históricas: uma primeira, totalmente lusocêntrica e dependente da mitologia colonial; uma segunda que, mesmo respeitando os valores lusos, quis ‘ver’ a realidade, recorrendo aos arquivos para organizar a narrativa histórica; por fim, a terceira, muito reduzida, que procurou dar conta de uma história angolana ‘africanizada’.