A formação superior colonial, decalcada em projectos similares elaborados nas escolas coloniais europeias, integrava disciplinas como História da Colonização, Geografia Colonial, Geografia Médica, Antropologia Física, Etnografia, Direito, Economia Política, Administração Colonial, Química Agrícola, Botânica Agrícola e Florestal do Ultramar, e ainda algumas línguas dos territórios ultramarinos. Mas este projecto estava sobrestimado, pois não respondia a qualquer necessidade da comunidade nacional e, menos ainda, dos agentes da colonização, apoiados por colonos analfabetos, instalados no terreno, inteiramente dependentes de um pragmatismo provinciano, e incapazes de compreender a emergência de um ‘colonialismo científico’ que, como escrevia Jaime Batalha Reis, obrigava a “ conhecer” para “ tirar o proveito” (Estudos Geográficos e Históricos, 1941, 401-402).
Compreender a necessidade de conhecer as populações colonizadas para melhor as dominar, ou seja, transformar o conhecimento antropológico num dos suportes centrais da colonização, seria uma tarefa a desenvolver na Primeira República. Neste contexto emergiram, para além de instituições significativas, como a Agência Geral do Ultramar (AGU), em 1924, dirigida nos primeiros anos por Armando Cortesão, duas figuras marcantes da tentativa de mudança de paradigma colonial, quer pelas acções, quer pelos textos, quer por um novo olhar sobre as populações, Norton de Mattos e Ferreira Diniz, que, no entanto, não encontraram eco na comunidade científica e muito menos junto dos responsáveis administrativos das colónias, sobretudo preocupados com a criação de condições para o desenvolvimento de uma colonização branca, como viriam a revelar os estudos apresentados no Congresso de Medicina Tropical da África Ocidental, organizado em 1923.
A recusa de um projecto colonial orientado para e pelo conhecimento estava destinada a travar qualquer tentativa de organização de um discurso científico português, e viria a ser reforçada no quadro das mudanças políticas portuguesas definidas a partir de 1926: a investigação científica, o estudo, o ensino superior e a produção do conhecimento relativo à questão colonial passaram definitivamente para o controle do Estado, tal como a organização de acontecimentos de natureza lúdica-formativa como Exposições ou científica como Congressos e Missões de investigação.