O primeiro tipo concentrava as histórias de Angola ao serviço do colonialismo português. De maneira mais precisa, esta leitura da história possuía duas tendências mais aparentes que reais: a primeira concebia a história de Angola como uma espécie de inscrição limitada nas histórias de Portugal e da expansão portuguesa, os angolanos estando ausentes ou reduzidos à função de apêndice menor ou exótico das operações portuguesas. A segunda, autorizava uma aparente autonomia à história angolana, desde que esta se mantivesse no quadro da indiscutível hegemonia portuguesa.
Quer se fale de António Baião e do grupo que mobilizou para levar a cabo a História da Expansão Portuguesa no Mundo (1937-1940) ou do padre Silva Rego, que não conseguiu separar-se da sua visão de missionário, minimizando a violência da escravatura perante a qualidade superior do baptismo redentor, encontramos a mesma retórica colonial, inabalável e inabalada perante as mudanças mundiais registadas na organização da história africana, a partir dos anos 1950.
Na imensa história dirigida por António Baião, que registou a exaltação da presença «antiga» dos portugueses na região angolana, mobilizando os heróis Paulo Dias de Novais e Salvador Correia de Sá, seguidos dos governadores e das suas realizações, a história da Angola dos séculos XIX e princípios de um século XX, limitado pela censura mas também pelo conceito de história, não aparecia de maneira autónoma, mas integrada nos capítulos temáticos consagrados às questões ultramarinas (abolição do comércio de escravos, Conferência de Berlim, conflitualidade europeia, explorações científicas, guerras de conquista, confrontos com populações «selvagens», colonização branca), que resumiam bem os fantasmas portugueses e as directivas ideológicas.
A orientação do padre Silva Rego respeitava também esta leitura da história. Os temas, os problemas, os acontecimentos e os heróis eram praticamente os mesmos. Mas Rego fazia esforços para organizar uma teoria capaz de explicar tanto a soberania portuguesa em Angola como as relações entre os portugueses e os africanos, classificando o sistema angolano como sendo um “regime de feudalidade luso-africano”.