Entre 1950 e 1974, os estudos portugueses punham em evidência uma forte dependência da muleta teórica da «assimilação», não deixando de estar impregnados pelas teses do lusotropicalismo, a que o Estado, a sociedade, os intelectuais aderiram quase sem limites. “São vários os homens da ciência portugueses (…) que vêm (…) reorientando as suas investigações em diferentes especialidades em torno das relações da gente lusitana com os trópicos, sob o critério luso-tropical”, afirmava Gilberto Freyre na obra intitulada O Luso e o Trópico (1961, 2), publicada após a realização do Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, citando os nomes de Almerindo Lessa na medicina, de Marcelo Caetano e de Adriano Moreira no direito e na gestão do poder, sem esquecer dois nomes maiores da ciência portuguesa: o geógrafo Orlando Ribeiro, que sublinhava como a investigação científica colonial “pode e deve também servir fins práticos; quanto melhor fôr o conhecimento da História Natural que se tenha de uma região, mais firme será o delineamento do seu desenvolvimento económico» (Problemas da Investigação Científica Colonial, 1950, 11), e o antropólogo Jorge Dias, chamado a dirigir a Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar Português, que afirmava, em 1956, que “a chamada expansão ultramarina portuguesa tem (…) um significado de alta transcendência para a história da humanidade.
A acção dos Portugueses não se pode confundir com os movimentos colonizadores das nações capitalistas, que instituíram um tipo de relações humanas com base na diferenciação racial” (Ensaios Etnológicos, 1961,153). Jorge Dias viria a dar-se conta não do rigor da teoria mas das verdades que resultavam do seu trabalho de campo, salientando num documento confidencial [1957] que “ao contrário daquilo que se pensa, e que eu também pensava, os pretos, hoje (…) temem-nos, muitos detestam-nos, quando nos comparam com outros brancos é sempre de maneira desfavorável para nós”, acrescentando que o português «habituou-se a considerar-se de tal maneira um ser superior que não dá por nada (…) nem mostra a mínima cortesia ao falar com pretos instruídos ou assimilados (…). Desta maneira vai-se cavando um abismo (…) desnecessário entre pretos e brancos, que parece contrário às superiores directrizes estabelecidas pelos responsáveis» (Pereira, “Antropologia aplicada na política colonial portuguesa do Estado Novo”, 1986, 223-225).