Nela encontramos alguns dos mais convictos biógrafos da altura, autores de notícias de curto alcance, muitas vezes saídas em publicações periódicas, mas também de textos de maior escopo. Com fins essencialmente de estudo, esses retratos de vida destinavam-se a resgatar da sombra personagens de menor nomeada – como nos catálogos e dicionários, coligindo elementos perdidos ou dispersos em corpus abrangentes –, mas também a rever à luz dos documentos versões anteriores. Vemo-lo, entre outros, em bibliófilos – da obra monumental de Inocêncio da Silva, depois prosseguida por Brito Aranha, a Joaquim de Vasconcelos –, ou mesmo, alimentando uma tendência com praticantes até hoje, em autores como o Visconde de Sanches de Baena e Rodrigues de Gusmão, os quais, enquanto médicos e autodidactas da história, fizeram da colecção de notícias biográficas, algumas desenvolvidas em volume extenso, uma das suas principais ocupações.
Mas se, no trabalho de alguns destes homens, frequentemente enquadrados por institutos e pela ACL, se vislumbra uma abertura temática apoiada essencialmente na recuperação quase filigrânica de trajectos menos conspícuos do que aqueles das figuras de proa da história nacional (assim potencialmente se distanciando do predominante modelo laudatório dessas biografias), é acima de tudo nas margens da historiografia ou da crítica histórica, tal como se vinha institucionalizando, que encontramos a força propulsora por detrás do boom biografista de Oitocentos: são os divulgadores – de fora e de dentro da academia – quem domina o panorama da escrita biográfica por estes anos, e são eles quem definitivamente alargará, para lá dos limites estreitos do biografismo mais convencional, o universo das personagens retratáveis. “Improvisados grandes homens vulgares”, como lhes chamava Garrett, ou aqueles que por mérito se haviam engrandecido, não serão já, apenas, as figuras gradas que continuarão a dar título ao grosso dos textos biográficos ou a preencher as páginas das múltiplas colecções de vidas ilustres que iam sendo editados, mas também os nomes que o tempo mais recente distinguiu: os dos parlamentares de pouca nomeada, dos jornalistas, dos músicos, dos actores. (A. Garrett, “Memoria historica de ... Mousinho da Silveira”, [1849], p.350)