Já entrado o século XX, esse interesse pela biografia como género de direito próprio traduz-se nalguns esparsos textos em que o biógrafo, ou a produção biográfica, se torna objecto de estudo: como em Baptista de Lima, sobre o biógrafo de Garrett, Gomes de Amorim (1928); em Alfredo Duarte Rodrigues, na extensa obra que dedicou às inúmeras biografias redigidas em torno da figura do Marquês de Pombal (1947); em Cruz Malpique, sobre Teixeira de Pascoais, biógrafo (1960); em Alberto Iria, sobre os biógrafos portugueses de Garcia de Orta (1963); ou em Saavedra Machado, sobre José Leite de Vasconcelos, prolixo redactor de notas biográficas (1970).
Um autor pelo menos houve, porém, que de forma mais abrangente tentou seguir-lhe o rasto, ou melhor, reconstituir ao longo do tempo aquilo que apelidou de “simpatia” pelo género biográfico: de António Feliciano de Castilho, Latino Coelho, Rebelo da Silva e Oliveira Martins a Gomes de Amorim, Rodrigues Cordeiro, Visconde de Sanches de Baena e Alberto Pimentel. Ele próprio praticante infatigável do género biográfico, ainda que sobretudo divulgador e por isso arredado do circuito académico, Mário Gonçalves Viana porventura terá sido aquele que, no campo da biografia (histórica) e antes da vaga biografista dos anos ’80, melhor parece ter entendido as suas potencialidades e reflectido sobre o seu percurso.
Escritor, professor e jornalista, para além de intenso colaborador com o regime estado-novista, dedicou ao género biográfico um extenso texto, misto de estudo e panfleto no tratamento da noção de grande homem, significativamente introdutório a um dos volumes traduzidos das Vidas de Plutarco. Convencido do sucesso da biografia entre os leitores tanto do presente quanto do passado, na apologia que traçava do seu modelo ideal M.G. Viana chegava mesmo a reclamar-lhe – como o Conde de Campo Belo fizera pouco antes – o estatuto de “ciência”. Ao que acrescentava: “Quem pretendesse seguir, a par e passo, a evolução deste género literário, ficaria verdadeiramente surpreendido, com a sua importância e extensão.” (M.G. Viana, “Ensaio preambular”, max. pp.34, 46; Campo Belo, op. cit., p.7)