Longe de uma manifestação marginal, mesmo no campo mais específico das histórias de vida, estas colecções de notícias vieram a constituir um (sub-)género de sucesso ao longo dos séculos que se seguiram, antes de mais na tradição metódica cujos fundamentos se lançavam.
Não é que, mesmo no contexto da ACL, o tom laudatório do discurso historiográfico se viesse a dissipar por completo, como, aliás, fica atestado à saciedade pelo formal e sistemático elogio de académicos e figuras da Coroa. Seria, de resto, inerente às funções de alguns destes homens que, à semelhança de Francisco Franklin – autor de uma crónica sobre o primeiro duque de Bragança –, desempenharam cargos como o de Cronista da Casa de Bragança. Não tinha, ainda, deixado de dominar a figura do historiador-eclesástico, tão bem representada por outro cronista régio, D. Tomás Caetano de Bem, ainda que sobretudo enquadrado pela entretanto defunta ARHP. Autor de obras biográficas de teor religioso, como grande parte dos seus congéneres, juntou-lhes, por inerência de funções, um trabalho genealógico sobre os reis de Portugal e um ‘dicionário’ das suas famílias ilustres. Mas a direcção em que apontava o seu trabalho, e o de outros, também por ter sido ainda um exímio organizador de arquivos, era já outra que não a da literatura essencialmente panegírica.
Alargados os horizontes do labor historiográfico para lá das noções de serviço, dívida ou devoção, alargava-se ao mesmo tempo o leque das personagens dignas de retrato (literatos e homens de ciência), mesmo em trabalhos monográficos mais demorados. São, e serão, ainda personagens notáveis, mas já não apenas, ou sobretudo, aquelas que a literatura dos grandes feitos de conquista sublimara: no contexto da ACL, por exemplo, A. Ribeiro dos Santos debruçar-se-á sobre as figuras, e a obra, de Pedro Nunes e Francisco de Melo (1806), ambos matemáticos, e Francisco Alexandre Lobo sobre as de Camões e do Padre António Vieira (1820 e 1823). Estava definitivamente franqueada a entrada, em particular pela via da biografia intelectual, a muitos daqueles que a literatura mais exclusivista dos reis e dos militares havia deixado de fora.