No ensino, de resto, essa pedagogia do exemplo, variável apenas quanto ao protagonismo relativo do antigo herói ou do mais recente grande homem, foi grandemente consensual, como o foi, na literatura mais especificamente dirigida ao público infantil e juvenil, o recurso ao retrato das grandes figuras: de Pinheiro Chagas ou Alfredo Gallis a Vilhena Barbosa, cujo compêndio de Exemplos de virtudes cívicas e domésticas: colhidos na história de Portugal será adoptado nas escolas e sucessivamente reeditado ao longo de duas dezenas de anos. (J. Ribeiro Ferreira, “Débito de Almeida Garrett a Plutarco”, 2008; S. Campos Matos, Historiografia e memória nacional, 1998, pp.396-97)
A consciência de que os temas históricos e a personalização do passado apelavam fortemente à curiosidade geral era, na verdade, partilhada por todos aqueles que se dedicaram à escrita biográfica, embora as motivações e os objectivos que lhe subjaziam não fossem coincidentes. Essa consciência por si só, e independentemente de considerações de tipo epistemológico, justificaria em larga medida o número significativo de autores, também historiadores de pleno direito, que o praticaram. Mas a distância que mediava entre os volumes de doutrinação democrática de Teixeira de Vasconcelos na série “Livros para o povo” ou os pequenos folhetos quinzenais da colecção “Propaganda democrática: o que o povo deve saber” (1886-88), em que Consiglieri Pedroso fez sair biografias de figuras políticas contemporâneas, e as séries biográficas que algumas editoras foram inaugurando para albergar a publicação de obras de maior volume e alcance, quase sempre sobre personagens do passado remoto, era evidente. Assim com a já citada “Galeria de varões ilustres de Portugal”, da Corazzi, com os “Serões manuelinos”, que a Ferin lançava pouco depois pela mão de Luciano Cordeiro, ou, já virado o século, com as “Mulheres ilustres”, a fugaz colecção que Olga de Morais Sarmento projectou e executou no âmbito do seu activismo feminista. Apesar da curta longevidade da maioria destas séries, elas não constituíram um fenómeno meramente episódico. Antes, fizeram parte de uma estratégia editorial largamente partilhada, a esse título sendo exemplar a actuação da própria Imprensa Nacional.