De tom panegírico, conteúdo moralizador e circulação restrita, o seu modelo (como anunciava) era aquele clássico de Cícero, de uma história mestra da vida, mas também – como muito antes nos Elogios de Fr. Bernardo de Brito – os espelhos de príncipes; e o seu público, o das elites no poder, que dos exemplos se serviriam como guia de conduta própria. (A. Herculano, “Cartas...”, 1842; Reis Torgal, “Antes de Herculano...”, 1996, p.22; A.P. Figueiredo, Elogios..., 1785, “Dedicatória”)
Mas se é verdade que o final de Setecentos é ainda o tempo da literatura cronística, do Gabinete Histórico (1818-1831) de Fr. Cláudio da Conceição aos exercícios mais particulares, e, bem assim, das versões refundidas das vidas de santos e outras figuras da Igreja, duas circunstâncias vieram alterar quer o seu peso no cômputo geral da produção historiográfica, quer a concepção de história em que se sustentavam.
Em primeiro lugar, e conjugado com a fundação da ACL, o estabelecimento de regras de boa prática metodológica, que vieram configurar pela base o labor historiográfico. De facto, a necessidade de se proceder a um levantamento de dados sobre o passado do país, princípio que em larga medida se plasmou no modelo das Memórias da Academia, veio promover um registo mais marcadamente erudito, afastado do pendor encomiástico prevalecente. Nessa vertente se desenvolveu, por exemplo, uma forma de apresentação de resultados que, no tom mais directo e curto da notícia, subvertia pela base a referência tradicional(ista) da escrita biográfica: a dos compêndios e/ou catálogos, meras colecções de apontamentos cronológicos na sua versão mais básica, dicionários ou biografias de conjunto naquela mais acabada. Será o caso de Francisco Nunes Franklin, que retomará parte do trabalho iniciado por Fr. Manuel de Figueiredo em torno dos cronistas-mor do reino, como de António Ribeiro dos Santos ou de Francisco Manuel Trigoso; e, fora do âmbito restrito da ACL e sob o formato desenvolvido do dicionário, as obras de referências de José Mazza sobre os músicos em Portugal, de Cirilo Volkmar Machado sobre os seus pintores ou, sobretudo, de Inocêncio da Silva, o mais directo herdeiro no domínio da bibliografia da tradição remotamente inaugurada por Barbosa Machado.