As lacunas que, a espaços, foram sendo apontadas pelos autores que ao género se dedicaram tinham, por isso, tanto de confirmação do seu evidente vigor quanto de deploração pelo que em áreas particulares e entre personagens menos conspícuas ficava por fazer: assim o notou Carolina Michaëlis de Vasconcelos no caso das figuras femininas de segunda linha, como o notaram o Conde de Campo Belo, quando falava na necessidade de se constituir um “arquivo biográfico nacional” em que constassem todos aqueles que se haviam notabilizado a nível local, ou mesmo, já a aproximar-se o último quartel do século, Oliveira Marques, que, ao volume existente de biografias sobre os nomes grados da história política nacional, contrapunha a necessidade de um “programa desenvolvido e organizado de estudos biográficos sobre os Portugueses do século XX”. (P. Chagas, Portuguezes illustres, 1869, p.xiii, Migalhas de história portugueza, 1893, p.135, “Historia de Julio Cezar...”, 1864; Campo Belo, O arquivo biográfico nacional, 1944, p.5; C. Michaëlis de Vasconcelos, A Infanta D. Maria de Portugal..., 1902, p.2; O. Marques, op. cit., pp.17-19)
E, no entanto, mal-grado a escassa novidade que os exercícios biográficos foram trazendo, foi volumosa a produção nesta área, especialmente aquela destinada a um público mais vasto. A esse conjunto bem mais largo se referia M. Lopes de Almeida quando, apontando para a “avultada biografia” inscrita neste género (não apenas histórico), falava na necessidade de se lhe arranjar um lugar à parte na história da literatura portuguesa. De que a escrita biográfica foi, desde cedo, não apenas geralmente praticada mas objecto de curiosidade, não nos chegou notícia apenas em segunda mão.
Notas sobre o sucesso e a facilidade com que esgotavam algumas obras deste teor, a frequência com que eram reeditadas (de que o caso de Oliveira Martins é o mais notável), a multiplicação de colecções editoriais especialmente dedicadas ao género ou a profusão de publicações periódicas em que a notícia biográfica ocupava lugar central, todas concorrem para pintar um quadro bastante menos lúgubre do que alguns comentários mais pessimistas fariam supor, mesmo no circuito mais propriamente académico. (Lopes de Almeida, Introdução a Lourenço Mexia Galvão, 1946, pp.23-24)